Viagens Invisíveis

Um dia no deserto, Salar de Uyuni

O passeio pelo salar do Uyuni requer um dia inteiro de muito protetor solar, óculos escuros e coração resistente para emoções fortes. Iniciamos logo pela manhã cedo, saindo pelo Hotel Luna Salada e deixando o conforto do wi-fi e da cerveja paceña, veja aqui, para nos embrenhar em um horizonte sem fim de sal.

Sal seco no deserto de Uyuni

Escolhemos o mês de dezembro para esta viagem, pois queria passar meu aniversário lá. Em tal data, a viagem pode ter vantagens e desvantagens: é a época das chuvas, então alguns locais estão inacessíveis (não conhecemos o Salar de Chiguana, pois estava inundado). Porém, é o único momento em que podemos ver o Salar com água da chuva, proporcionando este espetáculo, em que a lâmina de água reflete o céu.

Além disso, não faz o frio da época seca, de maio a outubro. Para nós que já achamos bastante frio por conta da altitude, achei a melhor época para visitar o Salar de Uyuni.
O início do passeio é bem interessante, primeiro parece que estamos entrando em uma rua de barro, depois, o que parece barro vai clareando e quando olhamos para os lados, só vemos a branquidão absoluta. Um ou outro carro de excursão, passando ao longe.

Não parece flutuar?

A primeira parada foi nos gêiseres. Isto é realmente interessante, imagina, no meio do nada, o branco vai ficando meio amarelado e logo o cheio de enxofre toma conta.
Os gêiseres mostram que lá embaixo tem movimento, a rocha vulcânica entra em contato com água quente, que se aproveita das fissuras do fundo da terra e eclodem fervendo, em um fenômeno muito interessante. Só não pode colocar a mão dentro!
Adentramos ainda mais o salar e nos demos conta do que os alertas queriam dizer, sobre não andar desacompanhado no deserto, pois quase não existem pontos de localização. O único que pude observar mais nítido era o Vulcão Tunupa, mesmo assim quase encoberto pelas nuvens e névoa.
 De repente, vimos ao longe uma casa com várias bandeiras, era o Museu do Sal, um antigo hotel que, por motivos ambientais, foi desativado e hoje abriga uma lojinha pequena de artesanato e algumas esculturas de sal.
Achei o artesanato de Colchani, cidade à beira do Salar, praticamente do mesmo preço do Museu do Sal, vale a pena ajudar pois eles deixam o lugar muito aprazível e são muito simpáticos.

Loja de Artesanato do Museu do Sal

Escultura de Sal no Museu do Sal, Uyuni

Na saída, encontramos um casal que percorria a América Latina de carro, ela colombiana e ele argentino, e não se contiveram quando ele encontrou uma bandeira do Córdoba, seu time de coração: -Olha isso, é o Córdoba, não acredito! Quem trouxe esta bandeira?! Quem seria este fanático?! Não acredito!

A propósito, há uma bandeira do flamengo também!

Conversamos bastante e nos despedimos com esta foto, o da direita é o nosso guia Jhonny. O casal estava sozinho e apenas com um mapa, muita coragem!
Seguimos em direção à Isla Pescado, mas antes umas fotos micos, ou tirávamos ou o guia morria do coração. Além da minha falta de disposição em tirar as fotos com efeitos, ele não se deu muito bem com o foco da câmera, então já viu… desastre duplo :/

Fotos micadas, tudo culpa da perspectiva

Estava louca para seguir adiante e o Jhonny não entendia: mais uma foto, mais uma… E pensar que a cereja do bolo estava logo adiante: a Isla Pescado ou Isla Incahuasi.

Visão da chegada à Isla del Pescado

Quando avistamos esta ilha, meu coração palpitou (é incrível como este tipo de coisa inusitada assalta meu coração, fico com frio do estômago, de verdade!).
Afinal, não é todo dia que se dá de cara com a imensidão de sal, que mais parece um mar batendo nas pedras de uma ilha abandonada.
Ou quase. Na verdade a ilha é habitada por uma família que cuida e preserva o local e o pequeno museu sobre a cultura andina. São cactos de todos os tamanhos, passarinhos, que não sabemos como conseguiram chegar ali, cachorros e llamas que dava pra imaginar como chegaram ali 🙂
A Isla del pescado, parece saída de um filme de aventura, onde o desbravador, depois de sair da ilha apenas de cactos, encontra uma ilha inteira de espelhos e depois uma pedras preciosas. Não encontramos os espelhos ou pedras preciosas, mas procuramos a valer!

A Ilha tem 3,5 km de circunferência que percorremos a pé! Recomendo apenas cuidado com o sol, como não reaplicamos o protetor solar, nos queimamos muito nos braços e pescoço. O sol reflete no branco do sal e queima muito mais do que percebemos. 

Foi um momento de reflexão, sozinhos, caminhando e vendo que outras pessoas já passaram por lá e deixaram sua marca, um coração aqui, um nome ali.

Almoçamos na própria ilha, com a comida que o guia trouxe, não há lanchonete ou nada do gênero lá, somente o museu, cactos e mais cactos, alguns com mais de 100 anos.

Na volta, o tempo já estava fechando, muitas nuvens e muita água mostrava que tinha chovido pelo deserto.

O espetáculo se completou, o céu, as nuvens e seu espelho de sal. Aqui com o tempo mais aberto

Estes montículos, são feitos por trabalhadores que reúnem o sal para extração, logo logo chegam caminhões e levam este sal que é tratado para consumo humano e outros fins. Olha como ficam maravilhosos com o tempo nublado.

Trabalhadores protegidos para a labuta

Eram os deuses astronautas?

No final da viagem o guia nos entregou um pequeno cristal de sal, que mostra como se forma esta camada embaixo da terra. Um presente lindo, porém, como qualquer sal, com a umidade de Salvador, derreteu. Ficou somente a foto na memória.

A notícia triste do dia foi sobre os acidentes que ocorreram no Salar de Uyuni. Há um memorial na entrada do Salar em homenagem aos cinco israelitas, cinco japoneses y três bolivianos, turistas e seus guias, que morreram queimados em um acidente de carro no deserto, notícia completa aqui.

Memorial sobre mortos em Uyuni

Nunca se sabe la muerte que nos está destinada. Porque el ser humano es frágil, piel y tejidos, todo blando y sin defensa, y ese río parado de la sangre que la menor violencia convierte en chorro. Asombra ciertamente que la mayoría muera en la cama, doblegada por la enfermedad y no herida por uno de los infinitos instrumentos agudos, penetrantes, explosivos de que el hombre está rodeado, infinitas aristas que a cada paso amenazan destruirlo y lo hacen, los riesgos por el mismo puestos en movimiento.
Oscar Cerruto, Cerco De Penumbras
O Salar do Uyuni foi o último dia da viagem, depois só voltar a La Paz e retornar para casa. Foi uma viagem de estranhamento, do corpo com a falta de oxigênio, da pele com a falta de umidade, da mente com a aridez ou absoluta falta de pensamentos, e, embora maravilhosa, também foi de emoção aliviada nos reencontrar no que conhecemos e poder respirar tranquilamente em casa.
Quer saber mais sobre nossa viagem à Bolívia,clique aqui, veja aqui e confira aqui , ah, tem mais aqui também 🙂
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