13 Em Bogotá/ Colômbia

Um dia no centro histórico de Bogotá

Dividimos o centro histórico de Bogotá, também conhecido como La Candelária, em dois turnos de dois dias diferentes. Isto porque o Museu do Ouro não funciona às segundas e o Museu de Botero não funciona aos domingos, como só iríamos passar um domingo e uma segunda na cidade, instaurou-se o dilema.
 
Após percorrer por dois dias o mesmo trajeto, percebi que é possível se fazer em um dia à pé, sem o gasto com deslocamento e percorrendo as principais atrações. Claro que poderia voltar facilmente à Candelária, provar os doces maravilhosos, lá chamados de Arequipe ou apreciar com mais calma a vastidão de obras dos Museus Botero e do Ouro. E, voltando, faria este passeio pelo Centro Histórico, principalmente de terça à sábado, quando os dois museus estão abertos.
 
O Museu Botero é um excelente início. Botero, que é o artista plástico Colombiano mais famoso de todos os tempos, doou grande parte de sua coleção particular ao Banco da República para a criação de um museu, que fica em um austero prédio na parte alta da Candelária.
 
Foram 123 obras de sua própria autoria e 85 de artistas internacionais relevantes.



Muito bem guardado por seguranças, já se pode entrever as raridades que estão aí dentro. São obras de Picasso, Miró, Soutine, Lucian Freud, Bacon e, principalmente, uma boa quantidade de obras do próprio Botero, de esculturas a pinturas, passando por diversos períodos de sua produção.

 

Um dos melhores museus de arte do Séc. XX/XXI que conheci na América do Sul. Se cansar a visão de tanta beleza, ainda há um delicioso pátio espanhol para descansar o olhar.

 

Durante a visita percebemos que várias escolas utilizam o espaço, tanto para adolescentes, quanto crianças bem pequenas, absorvidas pelas figuras monumentais de Botero.

 

“Peles suaves, sensuais, aveludadas, cobrem corpos amplos onde, enterradas bem fundo nas carnes, as pequenas almas, sempre bem dispostas, parecem dormir” 
Botero, Mariana Hanstein. 

Embora Botero seja mais conhecido pelas pinturas, a parte mais interessante 
para mim foi o acervo de esculturas. São belíssimas e em grande quantidade. Sensuais e, por vezes aterrorizantes, são como se a maciez das figuras contrastasse com a dureza do material a elas empregado, em um eterno dilema estético e sensorial.

 

Nas esculturas encontramos outra forma de ver o mundo de Botero, não mais a vida da província, onde “as figuras de Botero não vivem nos tempos modernos, não conduzem carros, não meditam. Vêm da província e fazem o que as pessoas sempre fizeram na província: comem, bebem, fazem amor, passeiam, levantam os chapéus, dança, cosem, choram, fazem piqueniques.” Botero, Mariana Hanstein. 

 

Nas esculturas, encontramos mais do que o olhar do provinciano, mas um diálogo com os temas clássicos: o sagrado, a mitologia, o intangível e ainda, aproximando-se do caráter deste Sul-americano, o mistério das formas, da natureza e da vida. 

 

Na entrada, que pode ser a porta de saída, já encontramos esta imensa mão, que nos dá as boas vindas ou um “até logo” gracioso, que pode dizer: – Volte logo, é grátis! 
Ninguém resiste a uma foto com ela ou à vontade de voltar.
 
Se desejar mais arte, na saída dos fundos do Museu está a Coleção de Arte Banco de La República, que promete novas obras de Botero e outros artistas latinos, como o brasileiro Vik Muniz. Não adentramos, pois ainda estávamos digerindo o que vimos no Botero, que já foi por demais cansativo. 
 
Em frente ao Museu Botero está a Biblioteca Luis Angel Arango, uma das maiores  da América do Sul e mais frequentada do que a biblioteca publica de Nova York. O interesse pela leitura dos bogotanos fez a cidade receber o título, em 2007, de Capital Mundial do Livro, pela UNESCO. Realmente é enorme e tem uma pequena e aconchegante livraria na sua entrada.
 
Descendo a mesma Calle 11, está o Centro Cultural Gabriel García Marquéz, em um prédio moderno que se destaca em meio ao casario colonial de influência espanhola da Candelária. 

 

 
Foi projetado pelo arquiteto Rogelio Salmona, talvez o mais conhecido do país, por suas diversas intervenções urbanas em outros pontos da cidade. Lembra um estádio de futebol 😉 e tem uma grande livraria e café, para descansar um pouco olhando o movimento intenso da rua.
 
Mas beleza, beleza mesmo está a poucos metros dali. Seguindo a Carrera 05 está a Igreja Nossa Senhora del Carmen. Em estilo gótico florentino, é muito colorida, cheia de detalhes em dourado. 

Observe as listras vermelhas e brancas no tijolinhos tipicamente bogotanos, um toque da cultura local a um estilo arquitetônico internacional. 

 

Lembra o interior da catedral de Córdoba no sul da Espanha, e está bem conservada. Não estava aberta para que pudéssemos ver suas rosáceas e vitrais do interior, uma pena.

 

Passamos um bom tempo babando observando os detalhes desta maravilha relativamente recente, de 1938.

 

Cortando as Carreras 5 e 6 está a Calle 10, considerada a mais bonita da Candelária.  Tem um casario bem conservado, que culmina na Plaza de Bolívar, a principal do Centro Histórico. 



A via exclusiva para pedestre começa nesta simpática placa.

 

Na Calle 10 tem até jardim aberto à visitação. Um charme.
 
Paralela à Calle 10 está a Calle 11, com várias indicações de restaurantes. Almoçamos em um agradabilíssimo – La Sociedad, que fica em um edifício enorme, tipicamente espanhol e com vários ambientes, todos muito agradáveis. 
 
O marido comeu uma carne excelente, mas só em estar neste ambiente lindo e tomar uma Club Colombia negra, já vale a pena. Enquanto estávamos lá caiu uma baita tempestade, muito frio e o céu sempre cinzento,  lembrei de Juan Vazquéz sobre o tempo e os bogotanos.

 

“E o tempo todo, enquanto morria de frio e olhava como uma nuvem suja e amarelada engolia o ceu noturno.
Como porque seu sangue era bogotano, para sempre habituado ao frio e à chuva e à fisionomia cinzenta dos bogotanos, e ele nunca conseguiria sentir-se à vontade em temperaturas de quarenta graus à sombra.”
Os Informantes – Juan Gabriel Vazquéz

 

Ao lado há outro restaurante de comida típica colombiana, Café La Puerta Falsa, onde provamos um arequipe com coco e outro apenas com açúcar, ambos espetaculares. Impressionante como eles conseguem fazer um doce de leite macio, mas firme, doce mas nem tanto e bem dourado, nunca vi nada parecido no Brasil, vale a pena provar. Eles estão nesta prateleira do meio.

 

Seguindo tanto pela Calle 10 como pela Calle 11, o resultado é a Plaza Bolívar, a mais importante da Colômbia, por concentrar o Poder Judiciário (Palacio de Justicia, à direita), Prefeitura (Alcadía Mayor) e a Catedral Primada. 
 
Cheia de pombos, llamas e gente por todo lado. Sim, há llamas para as crianças montarem, todas enfeitadas e milho para se dar aos pombos à venda.
 
A Catedral Primada, neoclássica, de 1823, estava fechada nos dois dias que visitamos o centro.
 
Estive nesta Carrera 7 em um domingo e me alegrou ver uma verdadeira multidão nas ruas, andando de bicicleta, patins, crianças, idosos ou homens de terno conversando em frente às lojas. 
 
Também pude conhecer o programa Bogotá Humana, que incentiva a utilização de meios de transporte alternativo, como a bicicleta e o fechamento de avenidas para estes transportes. A carrera 7 neste pedaço não tem carros, mesmo nos dias de semana, e as pessoas realmente a utilizam para passear.
 
Ao percorrer a Carrera 07, desde a Plaza de Bolívar até a Igreja de São Francisco há um comércio popular onde se vende de tudo, há de mercado a loja de roupas e calçados. Além das obleas, que são biscoitos finos tipo waffle, com cobertura de geleia ou leite condensado, vendidos na rua.


Três preciosidades (perdão pelo trocadilho, morrendo de vergonha, rsrs), estão nesta praça com o nome de Parque Santander: A Igreja de São Francisco, o Museu da Esmeralda e o Museu do Ouro. 
 
Na Igreja de São Francisco não se permite fotos, mas vale a pena a visita. É a igreja mais antiga da cidade, de 1622 e tem um altar lindíssimo todo em ouro. Fiquei impressionada com a devoção dos que ali estavam, vi várias pessoas chorando perante o altar e outras tantas se confessando. 

No Museu da Esmeralda também não permite fotos, mas não há comoção, e ainda não consigo entender o motivo de não se poder tirar fotos, talvez porque a segurança não seja tão eficiente quanto à do Museu do Ouro. 
 
Inicialmente se assiste um vídeo sobre as características do solo e das pedras, o que seria bem entediante se não fosse curto. Depois uma simulação de um túnel dentro de uma mina e, então, as pedras propriamente ditas, o que é realmente especial. A variedade é grande, mas não a quantidade.
 
Ao final do tour há uma loja, onde se pode deixar milhares de dólares em jóias de esmeraldas – achei o preço bem salgado. Pelo preço das peças, bem que o museu poderia ser gratuito (o ingresso custa 5mil, quase R$7,00).

O fim deste roteiro é a cereja do bolo – o Museu do Ouro

 

O Museu do Ouro abriga dois andares de exposição permanente e dois com exposições temporárias. Recomendo começar pelo subsolo (para seguir evoluindo na história e na qualidade das peças) ou, se tiver pressa, correr logo para o terceiro andar, onde estão os artefatos mais significativos.

 

É o maior museu de ouro do mundo. As duas salas do terceiro andar abordam os temas míticos, desde às oferendas e os objetos do Xamã.
 
O ambiente é bem escuro, o que ressalta a quantidade e o brilho do ouro. A maioria das peças foi disposta para brincar com a própria sombra ou reflexo.

 

Neste terceiro piso ainda há uma sala escura para um verdadeiro espetáculo de luz, som e brilho. Obrigatória e emocionante.

 

É muito interessante ver a história antropológica da Colômbia através dos artefatos de um material universalmente valioso. E o mais importante, ver um local onde estas peças são tão bem cuidadas e protegidas, transmitindo uma mensagem mais simbólica do que econômica, mais próxima de nós do que de um passado remoto.
 
“A América do Sul não é o local mais apropriado para procurar uma estética formalista. Pelo contrário, caracteriza-se por uma visão de arte decididamente comunicativa, que prefere a mensagem, o símbolo, e, igualmente, uma imagem reconhecível.”
Botero, Mariana Hanstein. 
 
Definitivamente, conhecer La Candelária é correr o risco de se apaixonar. 
 

Visualizar Centro Histórico de Bogotá em um mapa maior

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13 Comentários

  • Responder
    Boia Paulista
    20 de janeiro de 2014 em 12:06

    Oi, Nivia. Tudo bem? 🙂

    Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Natalie – Boia

  • Responder
    Anonymous
    17 de maio de 2014 em 10:07

    Procurei por Soutine e encontrei seu blog. Parabéns pelo post. Foi de grande utilidade para mim e farei esse trajeto q vc indicou. Valeu e felicidades!!

  • Responder
    Cynara Vianna
    5 de julho de 2015 em 15:45

    Oi Nívia, ficaremos 1 dia em Bogotá em conexão, chegaremos às 7h da manhã e partiremos às 21h. Pelo que entendi daria para fazermos esse roteiro que você sugere, entendi bem? O post é ótimo, já me ‘vi’ andando pelas ruas :).

    • Responder
      viagensinvisiveis
      7 de julho de 2015 em 01:29

      Olá Cynara, dá tempo sim! Só que vai dar vontade de ficar… 🙂 Separe apenas um bom período para o trajeto ao aeroporto, porque Bogotá tem engarrafamentos (vai notar isso na ida para o centro) e uma excelente viagem!

      • Responder
        Cynara Vianna
        2 de agosto de 2015 em 22:53

        Ok Nívia, como chegaremos em Bogotá antes das 6h da manhã, acredito que pegaremos um trânsito mais calmo, assim espero, mas na ida ficaremos uma noite um hotel perto do aeroporto, vou perguntar sobre isso para não termos surpresas. Obrigada. Na volta contarei como foi.

  • Responder
    Planejamento de uma viagem a dois para San Andrés - Cantinho de Ná
    5 de agosto de 2015 em 19:42

    […] Viagens invisíveis […]

  • Responder
    Michelle Jefinny
    17 de fevereiro de 2017 em 20:44

    Olá, obrigada pelo post! Super explicativo 😉
    Um beijo

  • Responder
    Livia Guglielmotti
    18 de julho de 2017 em 15:42

    Achei seu blog excelente.
    Já o incluí nos meus roteiros.
    Nele encontrei tudo o que vi em Bogota, e foi uma viagem de volta ao tempo.

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