Começamos nossa viagem ao estado do Rajastão na Índia por Udaipur e esta foi a melhor escolha que poderíamos fazer.
Ao planejar uma viagem, tendemos a começar pelas capitais, onde normalmente desembarcamos de avião. Essa nem sempre é uma boa opção e no caso da Índia, acho que é a pior escolha. Nova Deli é uma cidade enorme e, por isso, um pouco inóspita. Os riscos a que nos expomos quando viajamos ficam ainda mais evidenciados em uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes.
No caso da Índia, ainda há outros motivos para começar pelo interior, a quantidade de sujeira, lixo nas ruas e trânsito caótico é bem menor.
O interior, ah, o interior! Aquele acolhimento, a recepção calorosa, a tentativa de nos deixar confortáveis e felizes… Em Udaipur foi assim mesmo!
Desde a primeira rufada de vento quente na porta do pequeno aeroporto, os poucos guias esperando passageiros com modestas placas, um jardim enorme cheio de mulheres com sáris vermelhos sentadas na grama.
Tudo em Udaipur surpreendeu.
A cidade segue sua vida ao longo dos dois importantes lagos, Pichola e Fateh Sagar, nesta ordem. Tudo acontece em volta dos lagos e as principais atrações também estão aí.
Talvez pela proximidade com a água e essa relação simbiótica, Udaipur pede calma. Ficamos dois dias e meio, indico três dias. Mas, se puder ficar apenas um dia, é possível conhecer os pontos turísticos mais importantes. Sugiro um roteiro básico pelas atrações imperdíveis de Udaipur.
City Palace
Udaipur foi fundada em 1559 pelo Marajá Udai Singh e era uma cidade murada como todas as principais cidades do Rajastão. O ideal é começar logo cedo pelo City Palace, já que, como maior atração da cidade, rapidamente está lotado.
Este imenso palácio com pequenas portas escondidas e corredores tão estreitos que apenas uma pessoa consegue passar foi criado por mais de 22 marajás ao longo de 04 séculos. É o maior palácio do Rajastão e sem dúvida um dos mais lindos e cansativos de percorrer. São 20 mil metros de salas magníficas, mosaicos de vidro, pinturas, aposentos reais com roupas e objetos, sala de matrimônios, ufa…
Passamos uma manhã e saímos exaustos e sem ver tudo. Ainda faltava a galeria dos cristais e o Durbar Hall no Fateh Prakash, que vimos no dia seguinte.
Os ingressos são vendidos separadamente. para o City Palace são 250 rúpias por pessoa, um acréscimo de mais 250 se quiser levar câmera e outro de 200 para o audio guia, que recomendo. Com este ingresso, no mínimo 04 horas de passeio estão garantidas. O audio guia não tem opção em português, mas inglês e espanhol.
As partes mais interessantes do Palácio são os aposentos Kanch Burj, com espelhos e prata, o quarto da princesa suicida, Krishna Niwas, o quarto do Marajá Singh, Moti Mahal, com seus objetos pessoais, o pátio dos pavões, Mor Chowk.
Em frente ao um dos jardins mais bonitos está um objeto de importante valor histórico: a cadeira que o Marajá de Udaipur deixou vazia na reunião em que o Rajastão reconheceu a vitória inglesa. Foi o único Marajá a não aceitar tal invasão de imediato.
Observe as várias referências ao sol e o dourado que predomina no Palácio, símbolo dos guerreiros rajput. A maior parte da decoração é feita com pintura e mosaicos de vidro, alguns deteriorados, outros em plena restauração. As imagens possuem temas tipicamente indianos, embora possamos perceber a influência síria.
Quando o cansaço de tantos ornamentos ameaçar abater, aproveite para ver as lindas vistas da cidade de Udaipur de uma das janelas, sacadas ou combogós.
Apenas parte do Palácio está aberta a visitação, pois a família do Marajá ainda vive em alguns de seus aposentos. Outras partes viraram hotéis de luxo e estão abertas apenas a hóspedes ou visitantes que tenham reserva para os restaurantes. O poderio político dos Marajás não resistiu ao fim da colonização britânica, porém pelos preços cobrados e a quantidade de visitantes que vimos, certamente o poder econômico se mantém.
Na rua que dá acesso ao City Palace está um excelente restaurante vegetariano, o Gateway. É bem turístico, o que é um alívio para os mais sensíveis à pimenta indiana. Restaurante turístico = pimenta comível 🙂
Vegetariano, sem bebidas alcoólicas e apenas pagamento em dinheiro. Desanimou? Que nada, o restaurante é um alento com seus sucos naturais (sem água e gelo), um maravilhoso naan de alho (o pão fininho e elástico) e cardápio fácil com descrições em inglês.
Uma curiosidade do serviço: o garçom deixa um cardápio e uma caderneta onde anotamos o pedido e marcamos se queremos apimentado ou não. E eles não gostam de conversa, qualquer pedido deve ser anotado no papel. Imagino que para evitar erros de comunicação 😉
Jagdish Mandir
Depois de deixar uma boa parte de suas rúpias no City Palace, que tal um lugar de beleza excepcional e gratuito? O Jagdish Mandir é um templo do Século VII que está ao final da principal da entrada do City Palace. É um templo hinduísta em homenagem a Vishu, que tem lugar de destaque ao centro do altar em uma estátua de obsidiana (pedra negra extremamente dura).
Logo na entrada devemos deixar os sapatos em um local reservado e não se deve tirar fotos no interior do templo, que está constantemente cheio de pessoas cantando. O cheio dos incensos, a música, o clima de catarse nos faz sentir em um lugar especial.
Foi lá que pela primeira vez falei baixinho para mim mesmo: Estou na Índia!
Entalhes do templo Jagdish Mandir, Udaipur, Índia
A mitologia hindu contabiliza 330 milhões de deuses e seus avatares. (…) O devoto geralmente tem o seu ou a sua “Ishta deva” a divindade escolhida de acordo com o seu gosto. Mas há uma trindade sagrada: Brahma, o deus da criação do universo, Vishnu, o preservador e Shiva, o destruidor: para criar é preciso destruir (Florência Costa, “Os Indianos”).
Do lado de fora, o destaque é este Garuda em bronze, o pássaro mítico e veículo para o Deus Vishnu.
Ao passar pelo portal a surpresa: o templo é todo de mármore entalhado, contando diversas histórias míticas hinduísta, inclusive passagens do Kama Sutra. Dá uma certa timidez ficar olhando, mas que chama atenção, ah chama mesmo rsrs!
Após o templo, vale a pena rodar um pouco das ruas de Udaipur, até chegar à beira do lago Pichola, onde há alguns Ghats, as saídas para a água onde ocorrem as cerimônias fúnebres. O Gangaur Ghat fica bem movimentado no final do dia e é lindíssimo.
Um outro lugar maravilhoso para se ver o por do sol e ter a certeza de que estamos na cidade mais romântica do Rajastão é o Ambrai Ghat, onde há um templo hindu e muitos jovens aguardando o cair da tarde.
Aproveitamos o nosso primeiro dia para jantar no Restaurante Ambrai e ter uma vista maravilhosa do City Palace ao anoitecer. A comida era muito saborosa, mas bem apimentada. O restaurante serve bebidas alcoólicas.
Se ainda tiver disposição, as lojas do centro fecham às 21h e possuem artesanatos bem bonitos. Udaipur é um pouco mais cara do que as outras cidades do Rajastão, mas depois do por do sol mais espetacular da Índia, não vale a pena contar os centavos, não é mesmo?
♣Como chegar em Udaipur♣
Compramos um vôo de Nova Déli a Udaipur pela Indigo. Apenas 01h e 30min de vôo em uma aeronave normal, como as que viajamos na Tam ou Gol. A passagem foi razoável, cerca de R$200,00 o trecho. Comprei pela internet, mas é necessário a apresentação do cartão que realizou a compra, senão a mesma é cancelada.
Combinamos com a pousada The Little Garden por e-mail um transfer do aeroporto, esta é uma dica importante. O centro histórico das cidades que conhecemos era sempre caótico, com ruas estreitas em que não raro tínhamos que desembarcar e seguir a pé. Ter um motorista que saiba exatamente onde te deixar é um alívio. Custou 750 rupias, cerca de R$40,00, mas é uma boa distância.
É obrigatório o visto para Índia, porém é um procedimento fácil e pela internet, onde se obtém uma autorização eletrônica válida por 30 dias da data da chegada. Pagamos U$ 60,00 no próprio site da Embaixada da Índia e depois enviamos cópias dos passaportes por e-mail. Em 14 dias recebemos a confirmação. O ideal é fazer com antecedência.
♣Onde se hospedar em Udaipur♣
Recomendamos ficar próximo ao Lago Pichola, onde estão concentradas as principais atrações. Nós ficamos no The Little Garden, uma linda pousada de 1857, com poucos quartos e uma família muito atenciosa. Akshay resolveu todos os nossos problemas com cambio, deu dicas de restaurantes e pratos, nos conseguiu o transfer para Jodhpur e todos os dias nos aguardava da caminhada com um delicioso Masala Tea preparado por seu pai. Se falássemos um inglês melhor teríamos horas de conversa garantida.
O café da manhã não estava incluído, mas todos os dias nos foi oferecido um simples e delicioso café, bem tradicional.