Jodhpur fica a 265km de Udaipur, mas o melhor dessa road trip está no meio do caminho: são os templos Jainistas de Ranakpur, os mais lindos que vimos na Índia.
Essas maravilhas estão situadas em um local de difícil acesso, pois não há trens que sirvam a região e a viagem de ônibus seria muito desconfortável, especialmente pelas estradas estreitas e de via dupla.
Contratamos um motorista indicado pela pousada The Little Garden e por 6.000 rúpias, cerca de R$300,00, cruzamos o Rajastão em um confortável sedan com ar condicionado. Saímos após o café da manhã de Udaipur, parando em Ranakpur, onde, após ver o templo, almoçamos. Antes do entardecer, estávamos em Jodhpur.
Sou uma aficionada por pequenas cidades, invisíveis nos guias de viagem tradicionais, e o interior do Rajastão me surpreendeu.
A estrada é uma atração à parte: Carros de boi, macacos à beira de penhascos, mulheres simples com seus saris super coloridos, vacas deitadas no meio fio de uma rodovia… e uma beleza natural parecida com a que vimos o Marrocos, deserto e montanhas.
Tudo o que conhecíamos como rural teve a experiência multiplicada ao conhecer o interior da Índia. E encontrar, no meio das montanhas Aravalli, um complexo de templos do Século XV, que parece flutuar entre a vegetação, é um privilégio para os olhos.
Existem mais de 1200 templos de Jainistas na Índia, sendo os de Ranakpur um dos cinco mais importantes, pela imponência e beleza, além do significado religioso.
Os templos de Ranakpur foram construídos à margem do rio no distrito de Pali, estado do Rajastão, no Século 15. Pode se preparar para mais de 02 horas de percurso apenas para conhecer os dois templos principais, sem falar nos 14 mil metros de área total.
O maior é o templo de Adinath, que possui três andares e levou mais de 50 anos para ser construído. É dedicado a Rushabhdev, o primeiro dos 24 Tirthankar – deuses jainistas.
O jainismo é uma religião contemporânea ao budismo, seu fundador Mahavira, assim como Buda, era nobre e abandonou a vida de conforto pelo ascetismo. Há várias regras para acessar o templo, muitas delas ligadas aos preceitos religiosos.
A proibição de utilização do couro no templo, por exemplo, se dá pelo princípio da não violência (ahimsa) e do respeito a todas as formas de vida, inclusive os animais. Alguns adeptos do Jainismo são tão radicais que usam uma tela na boca para evitar engolir algum inseto e, claro, são vegetarianos estritos.
O áudio guia tem uma introdução bem esclarecedora sobre os principais preceitos do Jainismo, que são a Ahimsa (não violência), Satya (verdade), Achaurya (não roubar), Brahmachayra (castidade) e Aparigraha (desprendimento material)..
Estes princípios do jainismo estão presentes nas inscrições das paredes e colunas e dão significado a esta beleza branca.
Dentro do templo nos sentimos como em um palácio antigo. O sol perpassa as colunas mostrando a delicadeza dos entalhes. Apenas no templo principal, todo esculpido em mármore, temos 29 halls, 80 cúpulas e 1.444 pilares, cada um diferente do outro.
Esses pilares estão dispostos engenhosamente para que nenhum deles obstrua a visão do ídolo de Thinthankar, deus homenageado.
São dançarinos, homens em posição de ioga, flautistas, cúpulas e tantos elementos simbólicos que quase ficamos confusos com a quantidade de informação. Tudo feito em mármore branco extraído de Makrana, o mesmo que forneceu ao Taj Mahal.
A arquitetura obedece a chaumukha, quatro faces idênticas e simétricas, prezando pela luz natural e a harmonia do ar e do clima. O único ponto não simétrico do templo, é uma coluna torta, que está ali propositadamente para nos lembrar da imperfeição da vida.
Próximo do Main Temple está o Templo do Sol, ou Surya Narayan, que além de lindamente ornamentado, tem a melhor vista para o templo principal.
Este é ainda mais antigo, do século 13, porém foi destruído e reconstruído junto ao templo principal, no século 15. Observe que a torre possui ornamentos em todas as a suas faces, em camadas simétricas.
Em estilo Nagara, está voltado para a direção leste e seu entorno tem esculturas guerreiros, cavalos, corpos celestes e até posições do Kama Sutra :0
Há também o templo de Neminath, menor e que fica logo na entrada do complexo, mas como ainda tínhamos horas de viagem pela frente, não deu tempo de conhecer.
♥Dicas Práticas♥
Laxmi Tour & Travels– vimalaudichya@hotmail.com tel: +91 9829170173 – Fizemos o transfer com essa agência de Udaipur, indicada por nossa pousada. Perguntei em outros receptivos e a informação era a mesma, 8/9 rúpias por km + impostos, pedágio e estacionamento. Considerando que se tornou um passeio de dia inteiro, julguei o preço bem razoável.
Ingresso para o Templo custou 200 Rupias, com áudio guia incluso, acrescido de 100 rúpias para câmera. Não é possível o acesso dos guias no templo, para preservar o silêncio do local de oração.
Também não é permitida a entrada de bermuda, sapatos (de couro ou outro material) cinto ou outros itens de couro, mas não percebemos muito cuidado com acessórios, mais com cintos e sapatos.
Próximo ao templo há vários restaurantes. Almoçamos no Chandra Hill Resort e gostamos bastante, os preços e o sabor eram compatíveis com os que conhecemos em Udaipur.
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3 Comentários
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6 de agosto de 2018 em 17:39[…] Conhecemos os incríveis Templos de Angkor Watt no Camboja e são de cair o queixo. Os templos de Ranakpur na Índia e os Jardins de Suzhou na China também são patrimônios […]
Cristina Bertoncini
22 de setembro de 2019 em 11:24Vou para o Rajastão em novembro e as suas postagens estão me ajudando muito, informações muito detalhadas, adorei. Parabéns pelo blog.
viagensinvisiveis
23 de setembro de 2019 em 20:13Fico contente que tenha ajudado! O Rajastão é realmente incrível, espero que tenha uma linda viagem