Viagens Invisíveis

Safari no Kuzuko Lodge

Começamos com o primeiro dos posts fofos, recheados de bichos em nosso primeiro Safári da vida.

Escolhemos o Kuzuko Lodge para esta aventura. O Hotel fica no Addo Elephant Park, na região central da África do Sul. É bem menor do que o Krueger, mas consideramos uma boa opção, pois não é necessário pegar dois vôos para conhecer, como acontece com o Krueger que fica em outra cidade, Hodespruit.

Além disso, o mês de março é o mês das chuvas no Krueger e, supostamente não seria a época mais recomendável para conhecer o maior parque de Safári da África do Sul. Digo supostamente, pois nossa amiga que foi para o Krueger não pegou um só dia de chuva…

Outro ponto que pesou bastante foi o preço, conseguimos diárias de R$860,00 o casal, que parece absurdo, mas é uma pechincha em se tratando de hoteis de Safári all inclusive, exceto bebidas alcoólicas.

Deixemos o Krueger para quando conhecer Moçambique ou Zimbábue 😀

De Port Elizabeth, a viagem é relativamente curta (2h-3h), o problema maior é que grande parte dela é de terra. E com a chuva que ainda caia, estava assim:

Já na estrada vimos vários bichos, como veados, babuínos, avestruzes, para entrar no clima do Safári.

A portaria do hotel tem duas cancelas, a primeira para fazer o checking e deixar o carro particular. Não se entra no hotel, senão no carro aberto, próprio para Safári  Nesta entrada há um estacionamento em que ficam os carros particulares, vimos alguns turistas chegando de carro alugado.

Fomos levados em um carro aberto, o mesmo em que fizemos o safári. Como fazia muito frio e muita chuva, ficamos como pintos molhados e congelados, mesmo com  os cobertores fornecidos pelo hotel.

Na segunda cancela percebemos que estávamos entrando em uma reserva, com várias medidas de segurança para evitar saída ou ingresso de animais. Olha onde fica o hotel, lá em cima, quase imenso na savana.

Fomos recebidos no lobby com toalhinhas quentes e chá. No caminho para o lodge, quase pisamos em uma cobra, lagarta… melhor não saber, rsrsrs. Achei muito legal o cuidado dos funcionários, que logo a recolheram e devolveram à terra – vimos isso algumas vezes durante a estadia, com outros bichinhos passeando na área externa do hotel.

O Kuzuko Lodge tem a opção de dois Safaris, um pela manhã e um no final da tarde, com dois horários em cada turno. Gente de vários tipos frequentando o local, como casais, grupo de amigas, famílias com filhos pequenos, idosos, todos animados!

Mas vamos ao que realmente interessa: Como é fazer um safári fotográfico?

Basicamente entrar em um carro aberto, com um guia e desbravar a savana para encontrar animais em seu habitat natural. Ou seja: simplesmente maravilhoso!

Logo na saída do hotel já avistamos muitos antílopes.

Eles se disfarçam muito bem na savana, por isso uma câmera com um bom zoom, sorte e um guia experiente contam muito para se ver os animais.

Adentramos em um ponto com outra cerca: o guia nos avisa que o parque teve que realizar a separação das Cheetas com os Leões. Isto por que os Leões estavam matando os guepardos de fome. Enquanto os mais velozes felinos do mundo saiam para caçar e levavam horas para ter uma presa, os leões aguardavam e só apareciam na hora da janta.

De repente, o guia para o carro e avisa que teremos que seguir à pé – ainda bem que estávamos longe dos leões, presumidamente, rsrs. Claro que deu um certo frio na barriga. Ainda mais por estar logo atrás do guia e ser uma das primeiras a avistar este espetáculo de animal. Não parece desenho animado? Não posso descrever como fiquei exultante de ver estas cheetas, amo felinos!

Na verdade eram dois guepardos, um dormindo e praticamente escondido na mata e o outro alerta, vigiando o sono.

O guia nos informou que os guepardos são tolerantes aos humanos e que dificilmente atacam, mas não permitiu que chegássemos muito perto. Ao sair, olhei para trás e o dorminhoco levantou para observar nossa partida.

No mesmo dia ainda vimos macacos

E um dos big fives, os cinco bichos mais apreciados da savana africana, o Búfalo. Este foi separado da manada, depois de perder a briga com o novo líder e ficou assim, sozinho e cego de um olho… deu pena…

Normalmente, esta é a distância que ficamos dos animais.
O Kuzuko Lodge não tem girafas, pois a sua vegetação é baixa, o que dá a vantagem de maior visualização dos animais. Leopardos também não são vistos no local, exatamente por não possuir árvores frondosas (eles descansam nas árvores).
Há ainda a possibilidade de se fazer safári no amanhecer e fui a única com fôlego para esta empreitada de acordar às 5hrs da manhã, com tudo escuro, um frio de tirar o fôlego, para ver o nascer do sol na savana.

 

Foi onde vi o mais estranhos antílopes e também elefantes, ao longe.

No final do último safari noturno, os guias param e fazem uma confraternização entre os hóspedes, com vinho, cerveja e outras bebidas, bem agradável.

No segundo dia de safari avistamos os mais esperados: os leões. Após dirigir por vários quilômetros e com três carros em caminhos diferentes, os guias localizaram os dois leões pacatamente dormindo, ao lado de uma carcaça, possivelmente de antílope.

Neste momento, o marido começou a achar que o encontro foi armado, que a comida teria sido “oferecida” aos leões no local certo para nós, turistas desavisados. Possível? Sim.
Me lembrei de uma passagem do livro de Naipaul, que trata exatamente disso: o espetáculo pode ser uma farsa, mas nossas emoções em relação a ele são?
O coração batendo forte, quando meus olhos cruzaram com estes enormes olhos amarelos dizem que não…
“A “aldeia” e a “dança iniciática” eram produções para turistas ou gente da cidade, para lhes oferecer um aperitivo da experiência com a iboga. Não era, portanto, coisa de verdade, presumindo que ela existisse e fosse acessível a estranhos, seria preciso ir longe interior adentro; e lá a pessoa seria uma intrusa, o que seria desagradável. (…) Perto do final da minha temporada no Gabão, quando adentrei bem para o interior, numa aldeia do parque nacional Lopé, testemunhei outra exibição de dança africana. (…) Mas preferi a invenção metropolitana do francês em Libreville, e não só porque seu material humano era mais bonito e seus dançarinos mais performáticos. Ela usava os mesmos materiais locais, mas acrescentava estilo e acabamento, e não achei que lhe faltasse espiritualidade ou sentimento.” V.S. Naipaul, Máscara da África.
Se os leões realmente caçaram, se encontraram comida fácil, se os guias sabiam previamente onde eles estavam, se eles tem um chip… enfim… a graça destas patas para cima me fazem minorar todas as hipóteses e esquecer a pretensão de se viver uma “experiência de verdade”. As experiências verdadeiras são as que vivemos, e só.
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