A Índia possui castelos maravilhosos e entre os mais impressionantes estão os castelos do Rajastão. Castelos são sempre vistos como a residência da monarquia, príncipes e princesas que povoam nosso imaginário desde as histórias infantis.
Só que esse pensamento parece estritamente ocidental, quando nos surpreendemos com diferentes castelos no Oriente, povoados com deuses e deusas, marajás e maharanas.
O Gabe Brito, do excelente blog Insider Praga, explica com detalhes as diferenças entre castelos, palácios e fortes.
“castelo serve para proteção e moradia de governantes, palácio serve para moradia de governantes (sem toda a proteção do castelo) e forte serve para defesa de regiões”
Seguindo esta linha, vários lugares lindos da Índia não estão neste post por não serem propriamente castelos, como o City Palace de Jaipur, o Jaswant Thada e o próprio Taj Mahal. A ausência deles não prejudica o post, já que os quatro Castelos do Rajastão suprem qualquer expectativa. Depois me digam se não falei a verdade 😉
Mehrangarh Fort, Jodhpur
A cidade de Jodhpur guarda vários tesouros, o bairro azul, a piscina Gulab Sagar, o Umaid Bhavan Palace e o apaixonante Jaswant Thada. Mas ainda assim, o seu maior atrativo continua sendo o Mehrangarh Fort.
É como se do alto, ele ditasse o ritmo, a iluminação e, com seu peso e imponência, gritasse aos sete ventos quem manda em Jodhpur, desde o século XV. O esforço para chegar até lá, no cume da montanha mais alta da cidade, parece nos colocar na nossa devida posição: abaixo, bem abaixo dele.
Estávamos em uma pousada que ficava praticamente na última rua antes da montanha e ainda assim a caminhada se fez árdua. Se serve um consolo: a vista da cidade azul de Jodhpur é insuperável deste ponto.
O Mehrangarh Fort foi construído em 1459 pelo marajá Rao Jodha e por fora parece impenetrável. E foi assim por muito tempo, basta ver as marcas de balas de canhões que tentaram invadir o Mehrangarh em 1808, em um ataque o Marajá de Jaipur, Jagat Singhji. Toda a cidade foi tomada, mas o castelo resistiu bravamente, forçando as tropas de Jaipur a fugir.
As balas de canhão continuam lá, incrustadas nos 24 metros de espessura e 40 metros de altura das muralhas do forte, enquanto turistas desavisados tomam seu café displicentemente, ignorando a passagem da história.
Ao subir as três íngremes ladeiras serpenteadas, feitas assim propositalmente para que os elefantes não conseguissem dar o impulso necessário para derrubar as maciças portas, tente localizar um relevo de mãos na parede. São as mãos das concubinas e esposas , obrigadas ao sacrifício quando da morte dos Marajás a que serviam.
O sacrifício, a horrenda tradição chamada Sati (do sânscrito – mulher virtuosa) era uma forma das mulheres viúvas evitarem cair nas mãos dos inimigos que venceram a batalha. Um dos livros mais tradicionais da Índia, o Mahabharata, trata do Sati no primeiro capítulo
Qual seria seu dever, agora? Ela olhou o rosto do marido, sereno na morte. O virtuoso monarca já deveria ter chegado aos mundos superiores. Deveria segui-lo e servi-lo lá? Sem dúvida.
Mahabharata, Krishna Dharma
Logo se tornou uma tradição, banida pelos britânicos em 1829, mas que, inacreditavelmente, ainda acontece em vilarejos pobres do Rajastão. O relevo mostra as mãos de cada uma, logo antes da morte forçada ou voluntária.
Além de seus aposentos belíssimos, o Mehrangarh Fort é também um museu interessante, que abriga de carros reais, a objetos, vestimentas e principalmente lindos quadros Achei um dos melhores museus de toda a viagem, junto ao City Palace de Udaipur, que falaremos logo adiante.
As salas reais, aposentos dos Marajás, são riquíssimas e contrastam com o arenito e a força da parte externa do forte. São detalhes, desenhos, arabescos, luminárias, tudo muito luxuoso.
Algumas eram utilizados para fins protocolares, como reuniões e gabinete de despachos, e outras para finalidades bem menos nobres, como esta sala Takhat Mahal, onde ficavam as mais de 30 esposas e dezenas de concubinas do marajá Takhat Sing em noites de música e outras cositas más.
O Mehrangarh Fort é, por si só, um motivo para se conhecer Jodhpur, mas a cidade tem outras atrações maravilhosas. Algumas podem ser vistas do alto do forte, como um dos meus lugares favoritos, o Jaswant Thada, um mausoléu. Olhando de longe, não parece um castelo de contos de fadas?
City Palace de Udaipur
Já falei dele no post de um dia nesta cidade encantadora Udaipur. Embora tenha o nome de “Palácio da cidade”, tão comum nas cidades do Rajastão, a sua fachada e os largos muros, mostram que este era um palácio fortificado.
De 1568, a parte mais antiga fica neste prédio acima e abriga os aposentos reais que foram transformados em atrações do museu. Aqui também temos uma história de sacrifício feminino, o quarto da princesa suicida. A princesa Krishna Kumari que foi equivocadamente prometida a dois príncipes herdeiros, de Jodhpur e Jaipur e que se matou para evitar a guerra entre as cidades.
O quarto, com esse azul singelo, é um dos mais bem conservados do palácio. Embora vários outros também mereçam atenção.
Os Marajás de Udaipur pareciam gostar muito de elefantes. São pinturas, murais e até um elefante em tamanho real na entrada do palácio. Como foi construído em diversas décadas, a cada acréscimo, era dado o novo nome, como se fosse um novo palácio.
O City Palace Museum ocupa vários deles e pode-se levar mais de um dia para percorrer todo ele, prestando atenção aos detalhes. Isso sem falar o lado de fora, pois a cada janela pode apontar uma visão maravilhosa, como esta do Jag Niwas, o hotel cinco estrelas fincado em uma ilha do lago Pichola.
No final do passeio pelo City Palace, chegamos em dois ambientes bem agradáveis, um terraço com vista em 180º para a cidade e o patio dos pavões, tudo lindo, luxuoso e muito cuidado.
Para ler mais sobre o City Palace de Udaipur, clique aqui.
O palácio com menor arte decorativa, mas o mais pitoresco que conhecemos na Índia foi o
Amber Fort em Jaipur
Construído em 1592 por Man Sigh I, em cima das ruínas de um antigo forte, o castelo de Amber é um espetáculo já ao ser visto de longe. Como fica distante da cidade de Jaipur, o engarrafamento no caminho nos dá a mostra de como este forte é visitado pelos próprios indianos e estrangeiros.
Uma longa entrada e uma subida desgastante e chegamos ao pátio principal, onde a atração são os macacos. Na verdade, foi o lugar onde mais vi animais soltos reunidos, desde vacas, cabras, macacos, cachorros, pombos e pássaros, um verdadeiro festival.
Os macacos estão tão acostumados com os turistas que permitem a aproximação, com cautela e guardando a devida distância respeitosa. Mas nem pense em se aproximar com algo brilhante, com comida ou qualquer coisa que chame a atenção, estes macaquinhos são verdadeiros ladrões finos. Vimos uma turista perder o lanche em fração de segundos.
Logo após o imenso pátio, que não tem muitos atrativos, está o Ganesh Pol, um portão de 1640, decorado com afrescos e que vai servir de portal para o jardim mais bonito dos palácios que vimos. Como se percebe da imagem, foi feito em homenagem ao deus Ganesha, muito popular na Índia, um destruidor de obstáculos poderoso.
Este deus-elefante protege o jardim dos prazeres, Aram Bagh, próximo aos aposentos onde as mulheres ficavam.
Mesmo com tanta beleza no jardim, muitos passam direto para a sala Sheesh Mahal e o Jai Mandir ou sala dos espelhos, onde pequenas incrustações de vidro, prata e mármore provocam o olhar.
No Amber Forte também temos vistas lindas para a cidade de Jaipur e suas montanhas.
Após a sala dos espelhos, seguimos por diversas salas vazias, algumas passando por restaurações e outras sem qualquer função. Ao mesmo tempo que dá uma sensação de abandono, também convida à reflexão e ao silêncio.
Caminhei sozinha por alguns minutos e pude sentir o cheiro do cimento e do pó, vários pensamentos me invadiram, de tempos distantes…
A criança que se cobre com as roupagens de um príncipe e que enrola ao pescoço cordões de jóias, perde todo o prazer no seu folguedo; as suas vestes embaraçam-na a cada passo.
Com medo de que se gastem ou manchem de pó, ela se afasta do mundo, e até mesmo mover-se ela receia.
Mãe, não vale a pena essa tua prisão luxuosa, desde que ela exclui a gente da poeira saudável da terra, desde que ela priva a gente do direito de entrar na grande feira da vida comum dos homens.
Gitanjal I, Rabindranath Tagore.
♠DICAS PRÁTICAS♠
Mehrangarh Fort, Jodhpur
Entrada no Museu – 600 rúpias, cerca de R$30,00, Idosos e estudantes 500 rúpias.
Fotografia paga à parte – 100 rúpias por aparelho, cerca de R$5,00 (ou seja, para usar celular tem que ter duas autorizações) e não pode utilizar tripé.
Áudio guia incluso disponível em Inglês, Alemão, Francês, Espanhol, Italiano e outras línguas não latinas.
O café do forte tinha várias opções bem bonitas, especialmente de lanches internacionais, como brownie e petit gateau. Ideal para quem está cansado de Masala.
City Palace, Udaipur
Entrada no Museu – 250 rúpias, esse foi o valor que pagamos em 12/2016, agora custa 300 rúpias cerca de R$17,50, Idosos e estudantes 200 rúpias.
Fotografia paga à parte – 250 rúpias por câmara, cerca de R$12,00 (ou seja, para usar celular tem que ter duas autorizações) e não pode utilizar tripé.
Áudio guia – 200 rúpias, disponível em Inglês, Alemão, Francês e Espanhol.
Ao lado da entrada do City Palace, está o Restaurante vegetariano Gateway, uma das melhores comidas que provamos na cidade. Falamos mais dele aqui.
Amber Fort, Jaipur
Entrada no Museu – 500 rúpias cerca de R$25,00, estudantes 100 rúpias.
Não há cobrança pela câmera, nem áudio guia.
O Amber Fort está distante da cidade de Jaipur, tem um café bem bonito com algumas opções de lanche.
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