Toda viagem representa um risco, um salto no universo desconhecido. E com isso, pode esperar um perrengue! Temos vários nestes 10 (dez) anos de turistas inveterados. Selecionei os nossos maiores perrengues de viagem pelo tamanho do frio na barriga, do desconforto e pela quantidade de risadas que damos hoje ao lembrar. Depois que tudo passou é fácil 🙂
Aproveito para dar dicas para que você não caia em um desses ou, se cair, saber o que fazer para sair rapidinho da confusão.
Esse post faz parte da Blogagem Coletiva Perrengues de Viagem. Vários blogs contam seus perrengues pelo mundo, vale a pena conferir os links listados ao final do post.
Moeda falsa e malas perdidas no Peru
Nosso primeiro perrengue de viagem
A primeira viagem contada neste bloguinho foi a nossa ida ao Peru. Viagem maravilhosa e inesquecível, mas que já começou com um perrengue enorme: nosso primeiro vôo, de Salvador a São Paulo foi cancelado e a companhia não nos avisou. Os atendentes conseguiram nos colocar em um voo de companhia parceira e já fizeram nosso check-in no voo seguinte – SP-Lima – nos entregando os bilhetes e despachando as bagagens direto para Lima.
Quando chegamos em Lima, as bagagens não chegaram. Dois dias depois soubemos que elas foram retiradas do avião, pois como não teríamos embarcado no primeiro voo (que foi cancelado) toda a reserva caiu.
A nossa entrada no avião de SP para Lima sequer ficou registrada (mesmo tendo sido entregue o bilhete). Na volta também teve confusão, pois nos deixaram horas esperando e entramos por último no avião, literalmente na última poltrona, pois o avião estava lotado (e nossas reservas não existiam no sistema). Como “não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe” ganhamos na justiça uma bela indenização que patrocinou a próxima viagem.
♦ Dica esperta ♦ Quando um trecho, que não seja o último, de sua passagem for cancelado, busque logo o escritório da companhia e se certifique se os demais não caíram juntos. Isso possibilita a emissão de um novo bilhete. Colocar uma muda de roupa na mochila, escova de dentes e itens básicos também pode ajudar bastante em um perrengue assim.
E o perrengue de viagem continua no Peru…
Ao chegar em Lima, 17ºC, nenhuma roupa, escovas de dentes ou peça íntima. Fomos em uma loja de departamento e compramos alguns itens básicos para logo depois conhecer a cidade. Nosso primeiro passeio noturno: o parque das águas, ou Parque da Reserva.
Pegamos um taxi na rua e zarpamos. Ao chegar no parque a corrida foi super barata, algo como R$8,00, mas só tínhamos uma nota alta (perto de R$50,00), para nossa “sorte”, ele tinha troco. Ao chegar na bilheteria, uma moça de face zangada começou a destruir nossas notas, isso mesmo, destruir! Fiquei atônita, não sabia se ria ou chorava, ela simplesmente colocava um carimbo que rasgava a nota no meio. “Todas falsas”, nos disse. Um guarda acompanhava a ação, sério.
Eu repliquei – “mas é nosso único dinheiro, o taxista nos deu como troco”. Ela repetiu – “imprestáveis”. Neste momento, os olhos encheram de lágrimas, e me senti realmente vulnerável, pensando em como voltaria ao hotel, como a primeira noite estava perdida, se era o presságio para uma viagem horrível em um país de pessoas más e desonestas.
Inesperadamente, a guarda saiu da cabine e abriu o portão lateral, nos dizendo com um sorriso no rosto – pode entrar! E eu, sorrindo, agradeci e pensei “deixa de drama Nívia”, rsrs
♦ Dica esperta ♦ Ao fazer cambio sempre pedir notas pequenas e, infelizmente, não confiar em taxista ou vendedores ambulantes. É mais seguro pedir uma água em um café para trocar o dinheiro antes de embarcar no táxi. Sair com mais de uma nota também é um conselho a seguir. O mais é acreditar que sempre haverão pessoas más e pessoas maravilhosas, essas últimas vão aparecer em maior quantidade em nossas viagens, então estejamos de olhos abertos para elas.
Ficar presa do lado de fora do aeroporto na Índia
Nosso maior perrengue
É comum ouvir falar em perrengues de viagem combinados com Índia. É quase um requisito para se conhecer o país provar de algum dissabor, por menor que seja. Isso porque os costumes e o modo de viver são muito diferentes dos nossos, desde os mais elementares relacionados à alimentação e higiene até os mais impactantes, como a quantidade de ruas sem calçamento e saneamento básico.
Algo que nos pegou logo na chegada foi um item pouco contado – segurança. Juro que sabia mais sobre o costume de entrar descalço nos templos e de comer com as mãos, do que o fato de que todos os aeroportos da Índia tem controle restrito de entrada.
Ou seja, só se entra com um bilhete de embarque para aquele dia. Alguns dirão que isso acontece para um controle da permanência de pessoas no aeroporto, em virtude da sempre ríspida e tensa relação com o Paquistão. Outros podem maliciosamente pensar, que é assim para não permitir que tantas pessoas entrem no aeroporto e aproveitem o ar condicionado free.
Nós chegamos na madrugada e reservamos um hotel dentro do próprio aeroporto, mas não conseguimos encontrar no terminal em que chegamos. Decidimos sair e ver se o hotel não ficava fora do aeroporto, quando rapidamente vimos que não e que lá fora beirava os 5ºC, tentamos voltar ao aeroporto.
O guarda militar, bigodudo e Silk, disse de forma curta e grossa – “cadê os bilhetes?” apresentamos os que tínhamos, “esse não serve”, retrucou. Ficamos no impasse, até que, de forma impaciente, pediu que saíssemos da porta.
Lá estávamos nós, às 3h da madrugada, próximo voo às 10h em outro terminal, sem dinheiro (as casas de câmbio estavam fechadas), sem roupas adequadas (fomos para um país quente) e sem sequer um banquinho para sentar depois de um voo de 26h. Isso é o que chamo de big perrengue!
Acabamos conseguindo um hotel mequetrefe que aceitava cartão de crédito e tinha transfer incluído para o aeroporto, contei neste post.
♦ Dica esperta ♦ Na Índia, só sair do aeroporto se tiver certeza para onde vai, pois é sempre mais seguro e confortável dentro do que fora. E, como eu disse no post, se está em uma situação assim, vulnerável, inclusive no quesito segurança – procure um hotel 5 estrelas ou de rede, certamente tem mais chance de ver os seus problemas resolvidos. E não ter que dormir com toda a roupa do corpo por nojo dos lençóis.
Comida apimentada na China
O perrengue que deu dor de barriga e trauma
Na nossa última viagem, não podíamos passar ilesos de um perrenguinho. Esse nem foi o primeiro problema que tivemos relacionado à alimentação. No México, o café da manhã era ovos fritos na pimenta, veja neste post se não estou falando a verdade.
Ainda assim, o marido conseguiu se alimentar e conviver bem com as comidas mexicanas (acho que o creme azedo e a cerveja contribuíram para isso). Em Pequim, contudo, foi diferente, como se diz no popular: o bicho pegou!
Logo na primeira noite, vimos que a comida chinesa não seria de todo fácil. O cheiro de tripas fritas, que emanava em cada esquina, mostrava que a China é para os fortes. Como não como carne, sabia que me viraria bem com os dumplings de vegetais, as mil maneiras de cozinhar berinjelas e noodles de vegetais, mas o marido não tinha noção do desafio que seriam os 15 dias de viagem.
O ápice se deu no terceiro dia, fomos a um restaurante badalado, super bonito, escondido em um hutong próximo à Gulou Street,o Dali Courtyard. 24º restaurante da cidade no Tripadvisor, indicado pela Time’s. Logo que chegamos, nos perguntaram se tínhamos alguma restrição alimentar, como não somos alérgicos, dissemos que não.
Ninguém teve a menor ideia de pedir que maneirassem na pimenta. Resultado – todos os pratos eram entupidos de pimenta. No meio da refeição, perguntamos se não havia algum prato sem pimenta, a garçonete nos trouxe arroz.
Eu gosto de pimenta, sou baiana, como acarajé com pimenta (com o pedido de moderação, é claro), mas aquilo não era uma pimenta normal, era simplesmente impossível!
Além do incômodo intestinal, a comida teve outro reflexo muito pior, o marido ficou traumatizado. Durante os outros 12 dias, não queria entrar em nenhum restaurante chinês, só falava em comer pizza ou procurar um restaurante internacional. Pode parecer besteira para quem não se liga em comida, mas experimentar sempre foi a tônica de nossas viagens.
Fiquei muito triste por ele não ter conseguido mais se abrir à comida chinesa. Eu comi coisas maravilhosas, que ele quase não provou, com medo da infalível pimenta.
♦ Dica esperta ♦ Pesquise sobre os costumes gastronômicos do país que visita e se tem algo que não gosta, avise logo na chegada e não acredite em expressões como “mas é só um pouquinho” ou “quase nada”, é cilada, Bino.
Cartão clonado no Camboja
O perrengue que [quase] doeu no bolso
Estávamos sentados em um boteco em Siem Reap, tomando chope de U$ 0,50, quando meu celular dá um bip de mensagem recebida. Olho de forma distraída, imaginado ser propaganda ou a 10ª mensagem da vivo me oferecendo o pacote travel. Ledo engano, era uma compra de R$2.700,00 feita em uma loja de roupas em Belém do Pará. Antes que pudesse me recuperar, mais R$500,00 de compra em uma loja virtual, cujo nome indicava vender eletrônicos.
Olhei para a bolsa e lá estava meu cartão comigo. E agora? Ligar a cobrar para o cartão, é claro. Tentei do celular e nada, a ligação não completava. Voltei para o hotel e tentei ligar de um número fixo, também não chegava a chamar. A funcionária do hotel, muito prestativa, foi ao centro e trouxe um chip de celular local para que eu pudesse tentar, nada…
Liguei sem ser a cobrar, a ligação completou, mas não consegui resolver o problema. Apenas o número específico que aceita ligações internacionais a cobrar poderia ser acionado.
Mandei um whatsapp para minha gerente, pedindo socorro desesperadamente. Ela conseguiu bloquear o cartão até que eu voltasse e pudesse contestar as compras. Perdi o cartão, mas não meu rico dinheirinho, que foi estornado da fatura quando retornei.
♦ Dica esperta ♦ Levar dois cartões de crédito sempre. Antes de viajar cumprir um ritual: 1. ativar o serviço de mensagens do celular a cada compra; 2. tirar cópia da frente e verso do cartão e guardar (na nuvem ou impresso, ou os dois) 3. Pedir, na cara dura, o whatsapp de sua gerente do banco. Prometa que após a viagem você exclui dos contatos :).
Soroche e galão de oxigênio na Bolívia
O perrengue que doeu no coração
Chegamos em La Paz pelo aeroporto El Alto, que sabíamos ser um dos mais altos do mundo. Também já tinha estudado que no deserto do Sal chegaríamos a 5mil metros de altitude. Por isso, cuidei de que nosso tour e hotéis tivessem acesso a oxigênio, caso fosse necessário. O que não esperava era que fôssemos precisar.
A principal recomendação para amenizar os efeitos da altitude é pisar o pé no freio. Ir com calma na chegada à cidade, descansar bastante, mascar folhas e tomar o chá de coca também ajudam. Fizemos isso em Cusco e deu tudo certo. Para ter certeza que faríamos a aclimatação de forma perfeita, inclui uma noite em La Paz sem qualquer compromisso, a não ser descansar.
Uma série de acontecimentos impediu que ficássemos relax. Logo na chegada, o taxi não acertou a localização do hotel e nos deixou em uma esquina, apontando que o hotel seria pertinho. Não era, ao contrário, era em uma ladeira, que subimos carregando as malas.
Esse esforço no início não pareceu fazer muito efeito, mas depois de 2h ou 3h, quando já estávamos descansando no quarto, Fabio começou a sentir enjoo, falta de ar e muito mau estar. Procurei a recepção do hotel que recomendou o chá, remédio para o soroche (mal da altitude) e mais descanso. Mais de 2h depois e ele não melhorava: o vaticínio da gerente do hotel foi o pior – ele entraria no oxigênio e se não melhorasse, indicaria que não seguíssemos viagem.
No deserto as condições de atendimento médico não são das melhores, então era inviável viajar com falta de ar.
É a última coisa que se espera em uma viagem: ver seu amor ligado a um tubo de oxigênio sem conseguir respirar direito. Ouvi histórias terríveis de pessoas que quase morreram do mal da altitude, então todo cuidado é bem vindo.
Para nossa sorte, no dia seguinte, após altas doses de oxigênio, ele já se sentia bem disposto e pudemos seguir viagem, que foi contada em detalhes neste post.
♦ Dica esperta ♦ Passar mal pela altitude da Bolívia é algo relativamente comum, assim, não custa procurar um hotel e tour que ofereça o galão de oxigênio para o caso da situação ser mais grave. Pode até custar um pouco mais, mas no meu caso, salvou a viagem.
Esses foram nossos maiores perrengues de viagem, espero que nunca passe por eles, mas se passou, conta pra gente!
Para não pegar um hotel como o nosso perrengue na Índia, olha os comentários e as notas do Booking antes de reservar.
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