Viagens Invisíveis

Mérida e Uxmal – onde os maias se mostram

Chegamos à Mérida, cidade colonial de tamanho mediano, cerca de 750mil habitantes. A primeira diferença entre a Cidade do México e Mérida pudemos sentir ainda no aeroporto, ao descer do avião.
 
Saímos de 10ºC para 30ºC, muito quente e muito úmida, Mérida é pura arquitetura colonial, bem antiga, já que “fundada” em 1542 com este nome pelos espanhóis Montejos, mas já existente quando os Maias aí habitavam, com o nome de T’ho.  


Caminhado pelo Paseo Montejo, nome do fundador da cidade, vemos filas de palmeiras sombreando as calçadas de casas glamourosas, enormes. Construídas nas primeiras décadas do Século XX, com o boom do sisal, a influência de outros estilos arquitetônicos, como o neoclássico.


Seguindo para o centro histórico de Mérida, encontramos algumas praças assim: sombreadas, com muitos bancos para sentar e ver a vida passar.


Como a maioria das cidades espanholas, a cidade tem seu ponto zero na Plaza Mayor, onde se concentram os edifícios mais importantes, como o Palácio Municipal.


As pedras das pirâmides Maias da cidade de T’ho fizeram a base desta Catedral de San Idelfonso, a mais antiga do continente Americano (só perde em idade para a Catedral de Santo Domingo, na República Dominicana). Ao lado está o Museu de Arte contemporâneo, com bonitas esculturas em seu exterior.


Casa de Montejo, o palácio dos primeiros governantes espanhóis, com o detalhe no pórtico – dois espanhóis pisando da cabeça de índios.


Uma coisa que aprendemos sobre Mérida: é proibida a venda de bebidas alcoólicas antes do meio-dia. Não haveria problema se estivéssemos na Cidade do México. Acontece que às 10h da manhã já parecia que iríamos derreter! O marido não gostou de Mérida. 🙂


Alugamos um carro para ir a Uxmal, um compacto na Veloz Rent a Car (400 pesos ou R$ 71,00 a diária), com ar condicionado. Estava um pouco velho, a luz interna queimada, não tinha direção hidráulica e a embreagem fazia um barulho estranho, mas nos serviu e muito!


Com o apelido de Mr. Bean, fomos em direção a Uxmal, um sítio arqueológico maya, a 78km de Mérida. Depois de nos perder e nos encontrar algumas vezes, chegamos na estrada principal, quando a polícia nos parou em uma blitz. 

Documentos do carro e do motorista, (marido) revista de sacola, conversa, perguntas sobre origem, profissão, estado civil, documentos da acompanhante(eu): quando achamos que estava tudo certo, o policial nos fala: – vou ter que multar, porque vocês não pararam no momento em que eu falei: Alto, mas somente alguns metros à frente.

Com muita calma tentei explicar que, em verdade, paramos, mas não na via e sim no acostamento, porque no Brasil não se pode frear em via pública, muito menos em uma estrada. Ele respondeu que não estávamos no Brasil e que aqui no México, quando disser – Alto é para parar imediatamente. 

Pedimos desculpas, agradecemos o conselho e ficamos aguardando a multa. 5min, 10min. Ele lá na mesa com nossos documentos… pareceu uma eternidade. Voltou cheio de recomendações, nos devolveu os documentos e nos mandou seguir.

Ficamos apreensivos com o que tinha acontecido, se era normal ou não, e passamos o restante do dia um tanto temerosos (e até com vontade de devolver o carro).

O restante da viagem foi tranquila. Chegamos a Uxmal antes das 15h e logo fomos almoçar no restaurante do sítio arqueológico. Uma surpresa! Comida caseira tradicional, de muita qualidade. Indico!

Pedimos uma jarra de suco de laranja: Aprendam brasileiros: Isto é que é uma “jarra” de suco, devia ter mais de 01 litro de suco e não este copo de 500ml que normalmente nos servem.


Eu fui de Conchinita Pibil – carne de porco marinada em laranja e temperos vários.


O marido de Poc-Chuc – carne de cervo marinado no suco de laranja, com salada de tomate e cebola roxa, além do feijão preto, uma espécie de clássico mexicano.


Tudo muito saboroso e com um preço razoável (cerca de R$ 18,00 cada prato): a grande vantagem, está ao lado da entrada para as ruínas de Uxmal.


Uxmal era uma cidade maia datada entre os séculos 7º e 10ª d.C. Logo na entrada do sítio se chega à chamada Pirâmide do Mágico ou Pirâmide do Adivinho, diz a lenda que foi construída por um anão com poderes sobrenaturais. Dada a estatura dos Maias, bem que é possível que tenha sido feita por vários anões, com poderes sobrenaturais, de construir uma obra de tal magnitude dominando tão poucas técnicas e ferramentas.

 


A pirâmide apresenta uma característica especial – é ovalada – tornando as suas laterais muito diferentes.


Esta pirâmide tem cinco templos, mas o acesso a estes e a subida ao topo estão proibidas para evitar corrosão, possivelmente também era pintada de vermelho, azul, amarelo e preto. Ainda não consigo imaginar uma pirâmide colorida, sempre tivemos acesso às imagens de cor “natural”, tom de rocha, mas as civilizações pré-colombianas parecem gostar de cores.

 


Logo atrás, está o quadrilátero do convento, um grande quadrado que abriga 47 salas e era provavelmente um palácio, já que ricamente decorado com diversas imagens do deus Chac (deus da chuva). Os deuses são representados com a boca aberta, em um misto de risada e assombro, de contentamento e ameaça.
 


“La risa terrible es manifestación divina. (…) La risa devuelve el universo a su indiferencia y extrañeza originales: si alguna significacción tinene es divina e no humana. Por la risa el mundo vuelve a ser um hogar de juego, un recinto sagrado, y no del trabajo.” Octavio Paz.



Para se ter uma ideia do tamanho do quadrado.


A quantidade de detalhes preservados é um presente para os visitantes.


Palácio do Governador consiste em três edifícios ligados por três arcos, com o trono do jaguar à frente, um jaguar com duas cabeças. Os felinos e águias são uma constante nas civilizações americanas, vimos muitos no Peru (com os pumas) e agora com os jaguares, nas civilizações Maias e Astecas. 

 


A Grande Pirâmide, atrás do Palácio, tem escadaria de 30 metros, pode ser escalada e possui também diversos entalhes no seu entorno, tanto do deus Chac como de araras. 

 


Estas figuras estão no topo da pirâmide, após a escadaria.


Ainda há um pouco da tinta original


Por fim, o chamado “pombal”, palácio que possui um telhado em forma de crista, com uma visão muito bonita desde a grande pirâmide.

 

 
Acredito que o que mais me fascina nestas civilizações antigas era o contato entre a fantasia e realidade de forma tão natural, como em um livro de Cortázar, onde podemos encontrar uma flor em uma gaveta, quando estariam apenas chaves ou pássaros com cabeças de jaguar ou deuses que sorriem com dentes enormes ou serpentes com plumas. Ou o sacrifício e a morte como redenção, tantos paradoxos profundos, tão distantes de nossas questões filosóficas, impróprias a nós “pessoas modernas”.
 
 
Para Paz “La seducción que ejercen los llamados pueblos primitivos sobre lós modernos es de la libertad. En estas viejas culturas – de estructura mucho más simple que la nuestra – El artista moderno encuentra que lo individual e lo social no si oponen, sino se completan. (…) sus creaciones no solamente estaban destinadas al culto público: expresaban el gusto público. Su desaparición – a la llegada de lós conquistadores – significo uma catástrofe, no para uma minoria, sino para todo el pueblo, que veia em ellas algo más que formas artísticas: La substancia misma de su cultura y La promesa de sua perdurabilidad. Cuando cayeron lós dioses cayó todo um pueblo em ellos”.
 
Por isso era tão importante para os espanhóis a destruição do máximo de representações artísticas possíveis. A maioria das ruínas que se encontram preservadas, assim o foram por estarem distantes do julgo espanhol, seja por sua localização, seja por terem sido destruídas por seus próprios habitantes e, por isso, encontradas apenas no Séc XX.
 
Algumas ruínas, permanecem ainda desconhecidas, imersas nas florestas tropicais, quem sabe, ainda exercendo seu poder simbólico.

 

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