Viagens Invisíveis

Leitura de Viagem, Literatura da Colômbia

A lista de leituras da viagem para a Colômbia teve reencontros e descobertas. A mais óbvia foi a releitura de um clássico de Gabriel Garcia Márquez, que me guiou pelas ruas de Cartagena. Seguem minhas dicas de literatura da Colômbia

Literatura colombiana

 

“Do Amor e Outros demônios” O tipo de livro que encanta já pelo título: Conta a história de amor entre Sierva María de Todos los Angeles, menina de 12 anos dita possuída pelo demônio e o padre Cayetano Delaura, responsável pelo seu exorcismo.
Com pitadas de humor, sensualidade, história e mistério, a ficção tem a narrativa como relato jornalístico, uma história recontada por G.G. M do que seriam os fios de cabelo encontrados no convento de Santa Clara, na construção de um luxuoso hotel. 22 metros e onze centímetros de cabelo encontrados em um túmulo no Convento Histórico das Carmelitas, hoje o Hotel Sofitel Santa Clara, são o estopim desta fábula.
Caminhamos por Cartagena imaginando se este amor realmente existiu, se Cartagena era da forma relatada e no Séc. XVIII.
A descrição do convento de Santa Clara é exata: “O convento de Santa Clara era um edificio quadrado de frente para o mar, com três andares de numerosas janelas iguais e uma galeria de arcos de meio ponto ao redor de um jardim agreste e sombrio. havia um caminho de cascalho entre bosques de plátanos e fetos silvestres, uma palmeira esbelta que crescera mais alto que os terraços em busca da luz e de cujos galhos pendiam talos de baunilha e réstias de orquídeas. debaixo da árvore havia um tanque de águas mortas com uma borda de ferro oxidado onde as araras cativas faziam cabriolas de circo” (fls. 91/93).
Visitar o Portal dos Mercadores e Getsemaní, ouvir os sons das carruagens, certamente lhe conduzirão de volta para a ficção.

Passear pelas ruas de Do Amor e Outros demônios

Desmistificando Gabriel Garcia Márquez – Os redentores – Enrique Krauze
O ensaista Enrique Krauze analisa as biografias de personalidades latino americanas, entre elas o nobel G.G. Márquez, em Os Rendentores.
Muitos elogios às obras de G.G. Márquez e à sua extraordinária força narrativa, intensidade poética, prosa tão flexível e rica que, em alguns momentos, realmente parece incluir todas as palavras do dicionário, estes livros foram lidos em toda parte. E merecidamente.”. 
Em relação à atuação política do escritor, apresenta casos de bastidores, inclusive com acusações de colaboração e silêncio em relação à atrocidades cometidas por diversos regimes de esquerda, inclusive em Cuba. Bom para desmistificar um pouco a pessoa do escritor e perceber que as obras estão sempre muito além do autor, como já dizia Barthes em “A morte do autor.”
Bogotá com Cidades Criativas, Ana Carla Fonseca Reis. 
Sempre tive muita curiosidade em conhecer Bogotá, por sua capacidade de reinvenção, resiliência no combate ao narcotráfico e poder de reconstrução depois de tantos ataques terroristas.
Também queria conhecer o transporte público inspirado em Curitiba e saber se o apelido de “Atenas da América” era apenas um nome pomposo.

Bogotá, cidade da leitura

O livro da urbanista Ana Carla Reis explica alguns dos projetos de aproximação dos cidadãos com as áreas públicas.
“Presume-se que o compartilhamento dos espaços públicos – em especial os culturais – e o entendimento da cidade promovam a tolerância e democracia e desenvolvam o sentimento de pertencimento, fundamental para estimular o redesenho de um projeto de vida.”

Embora o transporte público seja eficiente no sistema Transmilênio, pegamos ônibus bem cheios, mesmo fora dos horários de pico. O que realmente parece funcionar são as ciclovias extensas no centro, do projeto Bogotá mais Humana.

Centro Histórico de Bogotá, Colômbia

Bogotá com Os Informantes – Juan Gabriel Vazquéz 
A grande revelação literária da Colômbia para mim foi o escritor Juan Gabriel Vazquéz, que embora tenha um nome “parecido” com o de G. G. Márquez, tem uma escrita inteiramente diversa. Uma literatura mais crua, mais urbana, mais introspectiva.
Os informantes narra a vida de um escritor e os conflitos com seu pai, orador famoso, entrelaçando as duas histórias, a primeira nos anos 80 e 90 na Capital Bogotá e a segunda nas décadas de 30 e 40. A busca do filho pela história do pai, permeada por uma mágoa profunda que ganha mais dramaticidade por se dar em momentos de conflito do país com a guerrilha das Farc’s. As duas histórias (pai e filho) se confundem com a da Colômbia e suas faces negras do colaboracionismo com os nazistas e os guerrilheiros.
“Mas ele devia ter voltado por um trajeto mais lento, pois ainda não chegara, de modo que atravessei a rua e fiquei esperando por ele na esquina em frente, sentado em um destes moirões que estão espalhados por toda Bogotá, essas pedras angulares, ásperas como uma runa celta, com as quais antigamente se assinalavam os endereços e que por alguma razão não foram retiradas, embora muitas delas já exibam informações incorretas.
 
E o tempo todo, enquanto morria de frio, olhava como uma nuvem suja e amarelada engolia o céu noturno.”
 
Gostei tanto do escritor que comprei mais um livro, História Secreta de Costaguana, sobre a construção do Canal do Panamá, que pretendo conhecer em breve.

 

GUIAS TURÍSTICOS
Guia criativo para o Viajante Independente da América do Sul – Zizo Asnis & Os viajantes, Ed. Trilhos e Montanhas, 2011.
Guia o Melhor da América do Sul, Ed. Abril, 2009.
La Guía Verde – Colômbia, Michelin, 2011.
Leia mais sobre a Colômbia ou sobre outras leituras de viagem
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