Em todas as referências que li sobre a cidade de Suzhou, seja em literatura, blogs ou guias de viagem, chamavam atenção para os vários jardins da cidade. E não é para menos, 9 dos 68 jardins de Suzhou estão entre os patrimônios mundiais da Unesco. Não sei o que mais me impressiona, se a cidade possuir 9 patrimônios ou 68 jardins 🙂
Visitamos 05 deles e, te digo, são incríveis!
A maioria das pessoas reserva a Suzhou o papel de coadjuvante em uma viagem a Xangai, normalmente em um bate e volta. Embora seja plenamente possível e cômodo de se fazer, pois a cidade está a apenas 1 hora de trem rápido, é um desperdício.
Suzhou merece, no mínimo, três dias, para que se conheça parte de seus jardins e a atmosfera da cidade que é uma verdadeira síntese da China moderna. Conhecer os jardins de Suzhou sem pressa, desvendando a diferença entre eles, a sutileza e retórica do pensamento chinês…
Em 1997 foram incluídos como Patrimônio da Humanidade, o Jardim do Administrador Humilde, o parque Liuyuan (ou Lingering Garden), o parque Wangshi e o Jardim Huanxiu (Vila da montanha abraçada pela beleza).
Em 2000, foram somados o Pavilhão Canglang, o Jardim da Floresta dos Leões (Lion Forest Garden), o Jardim de Mudas, o Parque Ouyuan e o Parque Tuisiyuan.
Dois dias inteiros e cinco jardins de Suzhou: três clássicos – jardim do Administrador Humilde, o Jardim da Floresta dos Leões (Lion Forest) e o Jardim Huanxiu (Vila da montanha abraçada pela beleza), e dois que mais parecem parques: PanMen e Tiger Hill.
Os jardins de Suzhou – O administrador humilde
O jardim do Administrador Humilde foi o primeiro a ser conhecido e o menos impressionante para os meus olhos. Os especialistas (e a Unesco) discordam de mim e creditam como o melhor da cidade. Foi criado no Século XVI por um juiz aposentado, daí o seu nome “administrador humilde”, já que seu criador Wang Xian Chen deixou uma vida de poder e dinheiro pela atividade não remunerada e humilde de cuidar de um jardim.
O mais famoso, visitado e caro jardim de Suzhou. Não sei se foi a multidão, o cansaço por ter ido após o Pagode Bao’en e Museu da Seda, mas não achamos essa coca-cola toda.
Imagino que não conseguimos captar a mensagem…
Os jardins clássicos chineses são mais misteriosos do que a maioria dos jardins ocidentais. Digo misteriosos porque nada lá existe por acaso, cada pedra, cada lago, cada ponte foram milimetricamente pensados para causar um determinado efeito.
Tenho a impressão que apenas uma imersão no pensamento chinês poderia tornar mais clara a experiência e, no meu caso, sei que absorvi muito pouco do que me foi oferecido, por não dominar o conhecimento sobre os padrões dos jardins e das mensagens subliminares.
Conseguimos tocar nesse pensamento ao se deparar com os nomes dos lugares, que remetem a imagens ou a um conteúdo imaginativo. No jardim do administrador humilde temos os pavilhões chamados de “ilha perfumada” e “hall da fragrância distante” e do “Marreco-mandarim”.
Em todos os jardins vimos lagos e carpas, pontes em formato de lua, além de uma casa de madeira que abriga mobiliário antigo e, dependendo da importância do jardim, vasos de porcelana, quadros e bonsais ou penjing.
O peijing seria o antecessor do bonsai, tipicamente chinês foi criado na dinastia Tang (618-907) e encontra-se em grande quantidade no principal hall – da fragrância distante – do Jardim do Administrador humilde.
Há elementos mais sutis, como a “vista emprestada”, comum dos jardins clássicos, em que um elemento é refletido ou enquadrado em outro. No jardim do administrador humilde, dentro do Pavilhão isolado, em dias de tempo bom e água transparente, pode-se ver o pagode Beisi Ta refletido no lago do administrador humilde.
Não consegui ver pois o templo estava nublado e a água turva, mas o guia ilustrado da folha diz que está lá.
Na entrada principal, à esquerda, está o jardim das flores , mas a parte principal e mais interessante do jardim está na parte central próximo do grande lago. Lá está o hall principal, com a coleção de peijings. Há diversos outros halls de madeira que circundam o parque, lugares para meditação e contemplação, se os milhares de turistas que visitam o parque permitirem.
Recomendo a visita logo no primeiro horário pois ver o jardim mais vazio, em um dia de sol, deve ser uma experiência única.
Valor do ingresso: Na baixa estação – 70 RMB – novembro a março e junho. Alta estação: 90 RMB – abril e maio, julho a outubro.
Horário: 7:30 a 17:30 (Março a 15/11) e das 7:30 to 17:00 (de 16/11 a 29/02)
Mais informações no Site do jardim, que também possui um Museu, mas como a fila estava imensa, não conhecemos.
Os jardins de Suzhou – Floresta do Leão
O jardim da Floresta do Leão ou Pomar do Leão, Shizi Lin, é um dos mais interessantes. De 1342 e menor do que o do administrador humilde, parece um parque de diversões natural. São cavernas que se transformam em labirintos, com direito a subidas, descidas e túneis.
Tem inspiração zen-budista e foi criado em homenagem ao monge Zhongfeng e o nome se deve ao formato de algumas rochas que lembravam leões. Dizem que se olhar atentamente é possível identificar leões jogando, rugindo, lutando e dormindo. Tem que ter muita imaginação 🙂
Adentramos em uma passagem escura e, após alguns passos, chegamos a uma ponte com carpas laranjas (ou douradas, como preferem os chineses). Um pouco mais à frente e um barco desponta: Sim, um barco cenográfico, todo de madeira, em que se tem uma linda vista de todo o parque.
As pedras estão na maioria dos jardins clássicos, mas na Floresta do Leão elas são a tônica. Significam a terra ou as montanhas sagradas da China e sempre foram colocadas de modo a refletir na água ou representar um ponto de vista de seu cume.
Tentamos tomar um chá na casa de chá do lugar, mas embora o cartaz dissesse “welcome” os dois senhores que lá se encontravam não conseguiam entender o mais básico inglês ou mesmo a expressão “tea”, achamos melhor tomar o chá em outro lugar.
Entramos em dois pavilhões, onde os móveis de madeira escura ornamentam e compõe o ambiente com cobogós de mesmo material e treliças decorativas no teto. Aqui também estava cheio, mas dentro dos halls pude ter um tempo comigo mesmo, sem nem perceber que, do lado de fora, estavam milhares de turistas.
Valor do ingresso: Na baixa estação – 30 RMB – novembro a março e junho. Alta estação: 40 RMB – abril e maio, julho a outubro.
Horário: 7:30 a 17:30 (Março a 15/10) e das 7:30 to 17:00 (de 16/10 a 29/02)
Os jardins de Suzhou- Vila da montanha abraçada pela beleza
Estávamos procurando o Jardim do Pescador indicado pelo blog Correndo o Mundo, quando acabamos nos perdendo em uma linda rua de canais de Suzhou. Procurando informação na rua e sem achar uma vivalma que falasse inglês, acabamos vendo um símbolo da Unesco e várias pessoas na porta do jardim, pensamos: deve ser aqui! Que nada, era outro também tombado pela Unesco. Em Suzhou é assim, tropeçou caiu em um jardim!
O jardim “Vila da montanha abraçada pela beleza” (minha tradução, pois não achei nada em português que falasse dele) – “Mountain Villa with embracing beauty”, fiquei buscando as sombras do glorioso nome no pequenino jardim, mas não encontrei.
O jardim da vila foi o menor que visitamos, mesmo assim tinha todos os elementos: carpas, pedras, flores, halls e móveis clássicos, cobogós e um efeito visual de pintura. Havia uma excursão escolar e os estudantes estavam animados tirando selfies, como qualquer estudante nos dias atuais. Conseguimos desviar e seguir pelo caminho intuitivo.
A ideia de meditar contemplando a natureza, elemento da filosofia taoísta, está em quase todos os jardins, que possuem halls de meditação.
Além disso, o jardim tinha o objetivo de parecer uma paisagem pictórica, o que é muito interessante, já que costumamos ver a arte tentando apreender a natureza e dificilmente a modelagem da natureza para que se pareça uma pintura. Até os lugares mais selvagens dos jardins, em termos de plantas e paisagem, foram deliberadamente construídos para parecerem “selvagens”.
Valor do ingresso: 10 RMB
Horário: 10 a 17h
Jardins que não são clássicos, mas que valem muito em Suzhou.
Os jardins de Suzhou – Tiger Hill
Afastado do centro de Suzhou está o Tiger Hill, um enorme parque muito visitado pelos locais, especialmente aos finais de semana, onde há espetáculos de música, apresentação de palhaços e malabares durante a primavera e o verão.
O jardim é tão imenso que um dia seria necessário para conhece-lo. São duas portarias, essa da foto é a que se compra o ingresso e em seguida, passamos para outro ambiente com flores, flores e flores. Impressionante.
O parque fica em uma colina de 14.000m e tem como principal atração o Pagoda inclinado de 36m de altura. Li em muitos blogs e guias impressos que comparam Suzhou a Veneza, o Pagode Huqiu a torre de Piza Italiana.
Não há qualquer semelhança, apenas a Itália está mais em nosso imaginário do que a China, então tentamos trazer o nosso conhecido ocidente e dar mais sentido ao longínquo oriente.
Não, Suzhou é bonita e impressionante, como Veneza também é bonita e impressionante. O Pagode Huqiu é muito mais antigo do que a Torre de Piza, de 1372. Do Século X e construído na Dinastia Song, a torre octogonal tem uma inclinação de 3,59º e possui 7 andares. Durante a primavera é ornada com tulipas vermelhas, que tornam o cenário surreal.
Uma piscina artificial que abriga as espadas de King he Lu, famoso guerreiro, mas que não pode ser escavada pois as fundações do Pagode seriam atingidas. Tiger Hill é assim, cercado de lendas e mistérios.
Valor do ingresso: Na baixa estação – 60 RMB – novembro a março e junho. Alta estação: 80 RMB – abril e maio, julho a outubro.
Horário: 7:30 a 17:30
Os jardins de Suzhou – Panmen
A cereja do bolo, o meu favorito, o último jardim de Suzhou que visitamos e onde passei mais de uma hora pensando: que sorte a minha ter decidido conhecer esse lugar! Sabe quando se adentra em um ponto turístico e a primeira expressão é: -uau?! Isso aconteceu algumas vezes na viagem à China e uma delas foi em Panmen.
O parque impressiona desde a chegada, onde encontramos logo um pagode de madeira de mil anos, o Ruiguang Pagoda, o primeiro de Suzhou.
Na primavera milhares de cerejeiras enfeitam o cenário, que já é perfeito. A vista a partir da ponte principal permite ver o pagode e uma vista panorâmica de Panmen e sua passarela coberta. No restaurante d centro do parque é possível comprar ração para as carpas, que já são domesticadas pela quantidade de turistas.
O hall principal estava fechado para visitação e o parque não tinha muitos turistas, não sei se pelo horário, estávamos em meados da tarde, ou pela localização, que fica mais distante do centro. Vimos locais fazendo atividade física, casais conversando, uma vida rotineira, o que não vimos nos outros jardins.
Na saída de Panmen, à esquerda, vimos algumas lojas de porcelana e compramos coisinhas por preços bem convidativos. O local não é muito bonito, uma larga avenida, muitas obras, mas os preços são melhores.
Valor do ingresso: 40 RMB
Horário: 09:00-17:00
É possível fazer todos em um só dia? Difícil! Em dois, muito possível! Olha no mapa a localização:
Os pratos tinham nomes exóticos que minha mãe adorava: “tigre luta com dragão” “galinha concubina imperial”, “pato ao molho quente”, “galinho dourado canta ao amanhecer”. Minha mãe ia muitas vezes a casa e comia com a família, olhando o pomar de ameixas-de-inverno, amêndoas e pêssegos lá fora, que formavam um mar de flores cor-de-rosa e brancas no início da primavera. Encontrava entre as mulheres da família Chang uma atmosfera simpática e acolhedora, e sentia-se muito amada por elas.
Jung Chang, Cisnes Selvagens. As três filhas da China.
Gosta de jardins? Sempre visitamos lugares assim em nossas viagens. Mostramos os jardins de Viena, um lindo jardim em Udaipur, na Índia e um jardim gratuito em Atenas, na Grécia.
Pretende viajar para China? Estes posts podem interessar. O blog O Bau do Viajante me ajudou bastante nessa viagem à China, tem informações valiosas lá.
Vai para Suzhou? Ficamos no Soul Suzhou, um hotel com ótimo bar e café da manhã, reservado pelo Booking.
3 Comentários
A florada das cerejeiras na China, onde ver - Viagens Invisíveis
7 de novembro de 2018 em 10:52[…] é uma cidade famosa por seus jardins, falamos de cada um dos que visitamos nesse post. Então é óbvio que também vimos cerejeiras nessa cidadezinha, não é? No jardim do […]
Abadia de Melk na Áustria, patrimônio mundial - Viagens Invisíveis
11 de dezembro de 2018 em 12:36[…] Templos de Angkor Watt no Camboja e são de cair o queixo. Os templos de Ranakpur na Índia e os Jardins de Suzhou na China também são patrimônios […]
Suzhou, uma síntese da China - Viagens Invisíveis
11 de fevereiro de 2019 em 21:39[…] é possível caminhar até o jardim mais famoso de Suzhou, o Jardim do Administrador Humilde. Os Jardins de Suzhou são as grandes atrações da cidade, mas há muito mais em […]