Chegamos na estação de Termini com 30 minutos de antecedência, o que é imprescindível, já que, até se ambientar com os confusos painéis eletrônicos que anunciam as chegadas e partidas, se pode perder o trem. A estação não é muito bonita, nem limpa, mas o trem saiu no horário indicado. Na estação tive a primeira impressão de rude tratamento por uma italiana irritada da trenitalia, ficar quieto, esperar na fila .
A Antica Dimora Firenze fica em uma rua universitária, não tão próximo do centro e deu um pouco de trabalho para localizar, já que a numeração não é corrida. Fica no 2º andar de um prédio que tem residências, clínicas, etc.. parece ser bem comum em Firenze a mistura de residencial e comercial em um mesmo prédio. A bela surpresa: uma pousada muito cheirosa, cuidada nos mínimos detalhes, com apenas 06 quartos, todos muito bem decorados. Este foi o nosso com uma pequena varanda, inviável neste frio.
Nosso amigo deu mais sorte, descolou uma banheira…
… e uma cama com dorsel.
Apesar da cama estar muito convidativa, fomos imediatamente para o Mercado Central. Percebemos que Firenze conserva muito do charme medieval, com ruas estreitas, pequenos automóveis e prédios altos que fazem sombra na rua praticamente durante todo o dia.
Eis o Mercado Central, o maior mercado fechado da Europa, mas que está com várias partes em obra-reforma.
Exemplares típicos da cozinha toscana, como os cogumelos e alcachofras.
Frutas cristalizadas deliciosas, provei quase uma de cada.
Tomamos café em um quiosque de comida alemã, com uma atendente muito simpática (alemã também, por supuesto). Salsicha, uma sopa de tomate com carne e uma bebida quente, muito apropriada para o frio, feita com rum, vinho tinto, canela e outras coisas mais. Os meninos foram de cerveja alemã.
Ao seguir pelo Mercado chegamos na Feira de San Lorenzo, que contém várias barracas vendendo lindas bolsas de couro, grande parte dos vendedores são brasileiros (fato confirmado pela Paula, porto alegrense que conhecemos depois) e pude notar sotaques de Minas e São Paulo. A Igreja de San Lorenzo está logo ao lado, neste cantinho direito da foto
A fachada austera parece desconversar que se trata da segunda igreja mais importante da cidade. Paga-se e$3,5 para entrar e, apesar de ser bonita e conter algumas coisas interessantes – como um sarcófago de prata e vidro com um cadáver (esqueleto) dentro – saímos sem saber ao certo se valeu a pena. A Capela Médici deixamos para visitar outro dia, já que a intenção era chegar no Duomo. E chegamos.
Caminhando descompromissadamente meu coração parou. Apresento-lhes o prédio mais lindo, no qual meus olhos já repousaram: Santa Maria del Fiore. Delicada e complexa, irresistível, onipresente em Florença. Sua fachada é totalmente bordada, como uma toalha da renda renascença. Foi um projeto ambicioso para guardar 20mil pessoas, datada de 1296 levou mais de 100 anos para ser finalizada.
As fotos não fazem jus às tonalidades de rosa e verde e o branco do mármore, de uma beleza mais emocionante do que qualquer coisa naturalmente produzida. E o sol ainda nos brindou derramando sua luz nestes mármores e reluzindo para o nosso deleite.
Entrada livre, seguimos pela imensa nave central até parar no Duomo do Juízo de Vasari e Zuccari. Lindíssimo e compatível com a incrível obra de arquitetura avançada para os padrões da época, já que era a maior cúpula até então produzida. Brunelleschi produziu em 20 anos esta maravilha que, como se vê, não possui vigas ou sustentação aparente.
À sua frente está o Batistério , dedicado a São João Batista e, como muitas Igrejas na Itália, construído sob um templo romano pagão, dedicado a marte. Chama atenção as portas de bronze, são duas, com passagens da bíblia e o seu formato oxagonal.
Ao lado esquerdo está o Campanário de Giotto e logo atrás, à direita, a Cúpula. Pode-se subir nas duas, porém totalizam 877 degraus. Preferimos o Duomo e subimos os 463 degraus (com momentos de escada circular e momentos de escada íngreme de pedra) para ter uma vista panorâmica de Florença – esta sim de tirar o fôlego, a escada ficou fichinha.A entrada na Igreja é gratuita, mas para subir no Duomo são E$7,00, muito bem pagos.
Durante a subida existem pequenas janelas para entrada de luz que já dão uma idéia do que veremos mais acima, mas não é só a vista que impressiona.
A subida e descida das escadas nos aproxima da cúpula e nos oferece a perfeição dos afrescos no Duomo. Existem placas de acrílico, tanto para evitar acidentes e queda de objetos do alto, como para impedir um costume reprovável de colocar nomes e datas nas paredes do Duomo (as escadas são recheadas destas demonstrações de falta de respeito). Gostei muito da vista do Duomo, mas o que foi realmente especial, foi estar tão próximo do Juízo Final de Vasari.
Figuras aterrorizantes do inferno, permeadas por anjos tridimensionais, que parecem desabar sobre nossas cabeças. Lembramos da Capela Sistina, com as suas devidas proporções, já que estamos falando de uma cúpula e não de toda uma Igreja, nem de Michelangelo.
Saímos pela lateral da Igreja e pudemos perceber como é enorme toda a Igreja. Para recuperar as energias, uma loja da Lindt providencialmente em frente à bilheteria nos convida à gula, a maior loja da lindt que já entrei, com praticamente todos os chocolates da marca, até uma edição de café, que só provei há 05 anos e nunca mais encontrei. Existem chocolates com as imagens do Campanário e do Duomo para levar de lembranças.
Como pecado não pode vir desacompanhado, aproveitamos para tomar um excelente Brunelo di Montalcino da vinícola San Felice, um dos melhores que provamos, comer uma seleção de queijos artesanais, muito fortes e uma bruschetta de uma espécie de presunto, que é muito, muito, muito gorduroso. Este deleite ocorreu na Cantinetta, logo na primeira rua em frente ao Batistério.
Embora a rua seja muito turística pela proximidade do Duomo, estava repleta de Italianos almoçando. O local parece uma cantina, com os embutidos e queijos à vista
Encerramos com um Barbaresco e eu com um doce chamado mil folhas, mas que em nada se parece com o nosso folhado de creme, já que tem um sabor de limão, o que o torna fresco e muito leve, contrastando com a da massa folhada crocante e com o açúcar.
Caminhar, caminhar, caminhar, melhor forma de conhecer Firenze e ter surpresas agradáveis, como uma feira de chocolate artesanal acontecendo na Piazza de La repubblica, nos contivemos bravamente.
No pôr do sol chegamos à Ponte Vecchio, mas poucos florentinos estavam fazendo a passeggiata noturna, talvez pelo frio.
A ponte é a única da cidade que não foi destruída pela II Guerra mundial, demonstrando que, apesar da falta de humanidade, algum senso estético Hitler possuía. À uma primeira vista a ponte não encanta, mas ao atravessar até a ponte Santa Trinitá e ver o amarelo e seu reflexo no rio Arno, com as lojas irregulares que saem da ponte e parecem que vão desabar no rio, ela mostra a sua real e arrebatadora beleza.
A Ponte Velha era um reduto de açougueiros até que o grão-duque Ferdinando I resolveu expulsá-los, determinando que apenas joalherias se instalassem no local.
Atravessamos a Ponte de Santa Trinitá para Oltrarno, ou seja, tudo que está do lado de lá do rio Arno é chamado de Oltrarno.
Atravessamos a Ponte Vechio por dentro, o que parece mais uma galeria recheadas de peças interessantes e caras.
Seguimos para a Piazza della Signoria, onde antes ficava o Davi. Uma réplica ainda está lá, mas o que me encantou realmente foram duas peças: O Perseu de bronze de Cellini (1554)
e o Rapto das Sabinas de Giambologna (1583), ambas na Loggia dei Lanzi, uma espécie de receptáculo aberto de esculturas no meio da praça – um desbunde, um exagero, uma extravagância, uma prova da potência de Florença.
O rapto das sabinas, especialmente, tem um movimento, uma precisão artística emocionante. O terror da Sabina na sua tentativa de se livrar, erguida e vencida pela força do homem jovem que ao velho também parece subjugar. A movimentação em espiral lembra uma dança terrível.
Ficam ao lado do Palazzo Vecchio, cuja arquitetura austera, medieval constrasta com a dramaticidade da escultura.
Depois desta catarse artística, um vinho para relaxar os sentidos, seguimos para uma Enoteca, onde provamos dois excelentes Chianti reserva da Lanciola, bem acompanhada, não harmonicamente, mas gustativamente, com uma nutritiva torta de chocolate.
E depois de mais de 14 horas desde que chegamos em Firenze, voltamos para o hotel, completamente embriagados de chiantis, arte e beleza.
Atualizando – O nome da enoteca é GustaVino
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