O dia dos mortos em um povoado tradicional da Cidade do México.
Toda viagem tem seus perrengues, toda viagem tem um programa totalmente furado, em toda viagem, em um determinado momento, você se pergunta: O que estou fazendo aqui (sem interrogação porque a pergunta é retórica.
Este momento aconteceu logo ontem, no primeiro dia de viagem. Chegamos na cidade do México no final da tarde e fomos recebido pelo simpático Luis do Red Three House. O pequeno hotel parece ser tudo o que dizem dele no tripadvisor e VnV. Quarto amplo, vários “buenas tardes” dos animados hóspedes e funcionários do hotel. Logo após nos instalarem aqui:
Perguntei se havia alguma programação para o dia dos mortos na cidade, que foi prontamente respondido com um – SIM, há um grupo saindo agora para ver o dia dos mortos em Mixquic um pequeno povoado que tem uma das manifestações mais tradicionais do México. Nem pensamos, nem trocamos a roupa, entramos no taxi… Só esquecemos que a Cidade do México tem o pior trânsito do mundo.
Uma hora, duas e nada de chegar em Mixquic, até o calmo taxista, ao olhar para mim do retrovisor exclamou – Nada de desespero! O que foi recebido com um sorriso sem graça e a explicação: acabamos de chegar de 14 horas de vôo, ele me retribuiu com um olhar de pena…
Depois de descer duas vezes para esticar as pernas (com o carro completamente parado no engarrafamento), chegamos.
Não deu para perceber se Mixquic é realmente o que se pode chamar de povoado, uma quantidade inimaginável de barracas de comida e bebidas como nunca vi (o carnaval de Salvador não chega nem perto), andamos, andamos e andamos e ainda haviam barracas e barracas vendendo tacos, tortillas, quesadillas, carne de porco, batata frita, cerveja, sucos, mingau, doces de Amaranto, uma variedade tão imensa que acho que não vou conseguir provar 10% de tudo o de diferente que eles tem aqui.
Isso sem falar nos grilos (que, segundo a brasileira que estava no grupo) parece salgadinho.
Longo empurra-empurra depois, chegamos no Cemitério. E então pude perceber que estava diante de expressão cultural única, inteiramente diversa de tudo o que já tinha visto em relação à morte. Famílias inteiras com filhos pequenos, bebês de colo, crianças e adultos fantasiados de caveira e Catrina (a dama da morte), várias emissoras de televisão cobrindo o evento.
E nos túmulos as famílias limpando e cobrindo de flores e incenso.
A Igreja do cemitério revela uma riqueza inimaginável em um pequeno povoado mexicano, com muito dourado e lustres de cristal.
Nas quase duas horas em que estivemos no cemitério, não vi ninguém chorando ou se lamentando. Todos estavam se reencontrando, se abraçando, rezando ou simplesmente trabalhando na limpeza do túmulo.
Talvez porque relembrar os mortos seja uma tarefa obrigatória anualmente, talvez porque eles acreditem que eles estão realmente presentes nestes dias festivos, ou talvez porque a morte não seja realmente um desaparecimento, exceto quando quem amamos desaparece da nossa memória.
Percebam a quantidade de pessoas fazendo fila para ver os túmulos.
O sentimento que liga as pessoas que vi, com seus pais e filhos, parece um renovar da memória, já que “o passado é uma névoa que avança invisível sobre nossas cabeças, sem que nos demos conta. Até o dia em que chove.” Carlos Fuentes.
Quer conhecer mais sobre o México? Além do dia dos mortos, participamos também do dia dos zumbis. Temos vários posts legais sobre a Cidade do México.
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