16.02.2012
Chegamos em Veneza às 10h30min, a estação é bem pequena e há um único café, à direita de quem chega. De Florença a Veneza o trem faz algumas paradas, como em Bolonha, Pádua e Mestre. A nossa estação era a última, em Santa Lucia – em Veneza propriamente dita. Não tinha visto em nenhum blog exatamente como e onde comprar as passagens do Vaporetto, por isso estava um pouco apreensiva. Logo na saída central da estação, esta é a vista.
No canto esquerdo da foto começam os pontos de vaporetto, com vários guichês para a compra de bilhetes. Pegamos o nº 3. direto para a Praça de San Marco, custou e$6,5 o trecho, sem maiores dificuldades. Para escolher outra estação, basta olhar no mapa que está no site http://www.actv.it/pdf/navigazione/Mappa_linee_2nov.pdf. Contudo, o mapa é um tanto confuso, mas não há estresse, no local tem letreiros luminosos e placas similares às de metrô, com as rotas e horários. Como o Ricardo Freire postou, para quem vai ficar transitando (não era o nosso caso) há passes para visitantes custam 16 euros (12 horas consecutivas), 18 euros (24 horas), 23 euros (36 horas), 28 euros (48 horas), 33 euros (72 horas) e 50 euros (7 dias).
A viagem de vaporetto é uma ótima maneira de dar boas vindas a Veneza, “chegar em Veneza por terra é como entrar em um palácio pelas portas dos fundos, e que não se devia chegar à cidade mais inverossímil de outra maneira que de navio, sobre o alto-mar, como chegava agora ele” Morte em Veneza – Thomas Mann.
Não chegamos de navio, mas ainda assim, sobre as águas, a cidade inverossímil logo mostrou a sua face mais resplandecente.
Estas ruas de água, este cheiro de maresia, parece embriagar. O céu estava limpo e claro, mas uma certa neblina parecia escurecer os olhos em uma aura de fantasia e irrealidade.
“A realidade de Veneza ultrapassa a capacidade imaginativa do sonhador mais fantasioso” Charles Dickens
Talvez tudo o que tenha sido lido e a afronta da cidade sob os olhos, contribuam para uma espécie de euforia calada. Talvez a síndrome de Sthendal agora estivesse se apoderando de mim.
E os primeiros arlequins estimulavam a imaginação e o surreal de estar em Veneza e ser carnaval.
Fomos recebidos pelas exuberantes luminárias cor de rosa, no cais ao lado da Praça de San Marco.
E aqui, em frente ao Palazzo Ducale paramos para tomar um cappuccino e olhar no mapa onde estavam os nossos hotéis.
Olhando os primeiro arlequins, conhecemos a Veneza “mentirosa”, o que Thomas Mann chamou de “ganancioso espírito comercial da rainha mergulhada”, que, como previa o autor, nos fez voltar à aborrecida sobriedade, saindo do inebriante estado de embriaguez – Pagamos R$20,00 euros em um capuccino e um croissant!! Observem o cappuccino mais caro do mundo!
Em compensação, os nossos vizinhos de mesa (alguém me dá a dica de com que ator de Hollywood este sorridente senhor se parece?)
Até a fonte em frente ao Palazzo Ducale estava em clima de festa, em vez de água, saía vinho, devidamente vendido em uma barrada em frente.
Nosso hotel era próximo, caminhamos alguns poucos metros, passamos por duas pontes com degraus (para sofrimento do marido com a mala) e chegamos no Le Isole. Moderninho, mesmo instalado em um antigo prédio. Tudo de muito bom gosto, piso de madeira bem confortável, banheiro moderno todo em mármore e com uma banheira em tamanho razoável – bem adequado para nossas últimas noites!
Mas não ficamos nem 15 minutos nele, fomos ver as enunciadas maravilhas de Veneza. A cidade estava cheia, mas não lotada. Dava para caminhar tranquilamente e logo em frente ao hotel há este ponto de gôndolas
e esta rua de água.
Na praça São Marco, a vida corria normalmente, com pessoas “normais” tomando o chá. A quantidade de mesas vazias nos cafés ao redor da praça já estava justificada pelo valor do cappuccino.
Contudo, flanando havia muita gente.
Fizemos o passeio 14 do guia de passeios da Publifolha – O labirinto da Piazza San Marco ao Rialto, porém sem a sugestão do vaporetto. Partimos da Piazza, na Riva degli Schiavoni, com esta vista, a pé
Seguimos à direita pela Calle Vallaresso, pedindo passagem aos arlequins
Nos guiamos pelo faro e pelos estreitos canais
Até chegarmos ao objetivo – Ponte Rialto, que não é a original (a antiga era de madeira e levadiça), mas data de 1588.
Caminhamos pelas lojas, predominantemente de souvenires e máscaras. Compramos duas e não nos importamos que não estávamos fantasiados, a nossa fantasia já estava acontecendo.
Na ponte, lotada de turistas, os arlequins também nos pediram passagem.
Atravessamos para almoçar no restaurante Trattoria alla Madonna, em uma ruela escondida próximo à ponte Rialto.
Em Veneza é comum este balcão de frutos do mar, mas o do La Madonna é enorme! Além deste, ainda há outro no centro do restaurante.
Começamos com um antepasto mixto de frutos do mar, com minipolvos, camarões e um outro tipo de marisco desconhecido (acho que vieiras). O minipolvo estava tão bom que pedimos outro
Também repetimos os camarões
Pedi uma sopa de peixe, bem condizente com a minha gripe.
O marido foi da especialidade da casa: espaguete com molho de lulas na própria tinta. Realmente o melhor que já comi.
E o nosso amigo foi de peixe grelhado com um molho especial (acho que a base de manteiga e erva).
Ponto para o marido, mas tudo estava muito, muito delicioso! Como a fome ainda não tinha nos abandonado, pedimos uma imensa lagosta para repartir.
Deixamos o restaurante quase às 16horas, com os garçons almoçando nas mesas e nenhum cliente. O responsável pelo bar ainda me ofertou uma dose de um conhaque muito forte para a gripe e, quando saiu e nos viu na porta ainda teve a delicadeza de me perguntar se estava melhor – isso é que é atendimento!
Voltamos ao cair da tarde à Piazza San Marco e esta transpareceu porque é o coração de Veneza. Esta Basílica dourada, que dizem abrigar os restos mortais de São Marcos estava completamente radiante, os seus vitrais pareciam mais límpidos, a cúpula mais azul, os mosaicos mais dourados e nem dava para perceber que do lado esquerdo estava em obras.
Os imensos mosaicos bizantinos na entrada enunciam a riqueza do interior. mas a fila imensa de turistas desanimou.
Especialmente porque, lá fora, estava fervendo de gente e das mais lindas fantasias, em um verdadeiro baile de carnaval da época em que Veneza era chamada de La Sereníssima.
À noite caminhamos pelas ruelas da mais ambígua das cidades, extremamente romântica e também excentricamente comercial, e, observando as vitrines de mãos dadas, nos perdemos. Eis o verdadeiro cumprimento de uma profecia: Se não se perdeu em Veneza, não esteve em Veneza. E me senti feliz, quando até o momento não estava pela profusão de lojas de grife e de quase nenhuma vida. Talvez pelo que Vaudoyer disse “nada mais fácil do que se perder em Veneza; e também, nada mais divertido. Ser um Teseu sem o fio de Ariadna, neste labirinto sem Minotauro”
Encontramos o caminho alguns vários minutos depois e fomos recuperar as energias na Pizzaria tipicamente napolitana – RossoPomodoro – bom, retifico, se dizem napolitanos, porque como não fui em Nápoles, tudo o que posso dizer é que a massa era elástica e bem fina como o Ricardo Freire e a Julia Roberts disseram! E um refrigerante (o primeiro da viagem) inacreditavelmente delicioso- La nostra gazzosa. Para ter uma ideia, é tão bom que procuramos para trazer na mala, mas não achamos em lugar nenhum.
E com um sentimento difícil, um vazio de resposta, uma confusão mental, voltei para o hotel. Sem saber ao certo se tinha ou não gostado de Veneza, com a impressão de que, como um amor difícil e impossível, talvez fosse o começo de uma atribulada história. A paixão à primeira vista logo se tornou algo indizível, um desconforto, um paradoxo insolúvel, mas… nem todas as histórias de amor são fáceis. Nem todos são como Henry James que, apenas com uma visita, já sentia Veneza como um eterno caso de amor.
1 Comentário
Petra, Jordânia. Um dia quase feliz - Viagens Invisíveis
20 de outubro de 2019 em 11:01[…] como em Veneza ou em Belém encontrar cidades reais em ambientes fantasiosos, talvez nos provoque um espanto […]