Decidi que precisava conhecer o deserto de sal quando vi a imensidão branca se confundindo com nuvens nesta foto.
Foto: Creative Commons/Tomas Rawski
Daí até conseguir armar um roteiro levou um ano. A maioria das informações na internet era de sites de mochileiros e incluía viagens em trens precários durante 12 horas, com a companhia de galinhas e porcos (esta segunda parte é acréscimo da autora). As melhores ofertas seriam partindo de San Pedro de Atacama, o que para nós não era opção, já que tínhamos apenas 5 dias.
Somos aventureiros sem perrengue, sem risco de morte, sem hostéis improvisados, sem quartos e banheiros coletivos, com calefação, água gelada e comida sem cabelo. Admiro muito os que se submetem à experiências no limite, mas não preciso estar em privação para sentir grandes emoções.
Esta aventura eu curti! 🙂
Sobre o Altiplano Boliviano, sabíamos que mesmo com grande planejamento, pagando por um tour caro, ainda enfrentaríamos algumas situações difíceis, só não imaginávamos que estas situações nos colocaram em contato com a realidade dos moradores do altiplano.
Ok, a comida foi um desafio…
O planejamento para esta aventura, conto agora.
1. Como chegar em Uyuni (vilarejo base para os passeios)?
Há três possibilidades de transporte para Uyuni: trem, ônibus e avião, todos a partir de La Paz.
No trem, a rota é a seguinte: De La Paz a Oruro em ônibus (03 horas) e de Oruro a Uyuni com o trem noturno (07 horas), total 10 horas de viagem.
As linhas de ônibus são monopolizadas pela Todo Turismo, empresa que leva de Uyuni direto à La Paz, em ônibus por 12 horas de viagem, com direito a muito sacolejo.
A rota aérea era feita por duas empresas – a estatal BOA (Boliviana de Aviacción)** e a Amaszonas. Embora os preços da primeira fossem melhores, não consegui comprar online e, apesar de ligar dezenas de vezes, não tive contato com o escritório da companhia em São Paulo. **Me parece que a BOA não opera mais vôos para Uyuni, pois o destino saiu do site.
Compramos o voo: La Paz – Uyuni pelo site da Amaszonas, por U$ 244,07 ida e volta. O voo de ida foi feito em um jato para mais de 20 passageiros com poltronas duplas de couro e serviço de bordo.
Bem bonitinho e super confortável.
DICA 1: levar o mesmo cartão de crédito que se fez a reserva no site para passar no momento no checking. Eles debitam no momento do embarque o valor das passagens.
DICA 2: Na ida peça um assento no lado direito da aeronave, vai ver o Salar e sua imensidão próximo do pouso.
Na volta, nosso voo sofreu um atraso de mais de 03 horas, quando chegou era um turboélice de estremecer os mais valentes. Apenas 12 lugares, para adentrar, só se abaixando (e olha que eu tenho 1,55m de altura). Serviço de bordo? Néeeee.
Vi americano rezando, japonês rindo sem parar, coreando se borrando e todos com o rosto tenso, morrendo de medo. Os pilotos deixaram as portas da cabine abertas o voo inteiro e dava para ver todo o movimento: enquanto eles estavam tranquilos eu também estava, mas não posso dizer o mesmo do marido.
No final das contas, os dois vôos foram ótimos, à exceção do atraso. O aeroporto de Uyuni é pequeno, mas confortável e o checking foi feito sem c0mplicações, tudo nos conformes. Apenas uma hora de La Paz a Uyuni, mais conforto do que isso? Só se o jatinho fosse particular…
Aeroporto de Uyuni. Subindo as escadas, fica um restaurante com vista para a pista de pouso.
O melhor dinheiro da viagem, quando retornar farei exatamente da mesma forma, nada de trem ou ônibus, avião.
2. Como chegar no deserto do sal e nas lagoas (principais atrações do Altiplano)?
Ao chegar em Uyuni, existe praticamente uma única opção: contratar um tour. Algumas pessoas corajosas decidem conhecer tudo por conta própria, mas a maioria dos lugares não tem estrada, sequer um caminho para se guiar. Não recomendo.
Sem saber disso, ainda antes da viagem, assisti um documentário do Discovery Channel na série “Viver para contar” sobre uma família que ficou perdida no salar do Uyuni por 05 dias e teve que beber do próprio xixi para sobreviver. Ok, ok me convenceu.
Se vamos por agência, temos duas opções: passeios compartilhados ou exclusivos.
Os passeios normalmente são compartilhados por 06 passageiros em um 4×4, dormindo em quartos coletivos e sem tomar banho por uma ou duas noites. Para o leitor não pensar que estou fazendo drama, olha o banheiro que a experiente viajante Fernanda Souza encontrou.
Ou seja, a primeira decisão foi por um tour exclusivo, agências que aceitam apenas dois passageiros, com hospedagem razoáveis e em sem querer levar um rim por isso. Pedimos orçamentos com empresas que possuíam os melhores comentários na rede: Fremen tours, Ruta Verde e Colque Tour. Também entrei em contato com os melhores hotéis e vi que todos intermediam tours, como o Luna Salada.
Optamos pela Ruta Verde pelo roteiro apresentado e pela rapidez nas respostas e solicitações. Depois percebemos que não foi a melhor opção…
Isto porque, a Ruta Verde não faz nenhum passeio, nem tem escritório em Uyuni. Ela meramente intermedia o contato com outras agências. Assim, embora se pague à Ruta Verde, faça o contato e o roteiro com ela, um motorista de outra agência é quem vai lhe receber e lhe guiar.
No nosso caso, o guia era da Mundi Expeditions.
Vou falar do tour em outro post, mas foi bom. O problema é que, se eu quisesse contratar a Mundi, teria contratado a mundi… Nada disso foi dito nas conversas por e-mail, nosso motorista sequer foi avisado no nosso roteiro.
Carro em excelente estado da Mundi expeditions.
No final das contas, senti que estava pagando mais sem necessidade, sem tenha sido cumprida toda programação.
Explico: Faltando 02 dias para a viagem, recebi um e-mail da Ruta Verde, avisando que teria que mudar nossa hospedagem por conta das enchentes: do Tayka salt hotel para o Luna Salada Salt hotel e que os dois seriam da mesma categoria. “-Ok, gracias” foi a minha resposta.
O que não foi dito, era que a programação de uma tarde inteira e início de uma manhã seria simplesmente abortada.
Quando perguntamos ao motorista, ao meio dia, para onde estávamos indo e ele explicou que estava nos levando para o hotel, fiquei revoltada! Como assim?! Ele nem estava com o roteiro em mãos e pareceu surpreso quando disse que na programação enviada por e-mail ainda passaríamos no Volcan Ollague – Salar de Chiguana – Gruta de las Galaxias – Puerto chuvica.
Se limitou a dizer: lá esta inundado e não tem como chegar.
Não sei se ele estava dizendo a verdade, mas o carro seguiu na direção do hotel a 20km por hora… A chateação só foi amenizada quando encontramos wi-fi, paceña gelada e um lindo pôr do sol da sacada do hotel Luna Salada, com vista para o Salar de Uyuni.
Paleta de cores sem filtros no Salar de Uyuni
Diz se não cura o ressentimento de toda uma vida?
Fica o alerta: foi um problema pequeno, mas se fosse um problema maior, como resolveria se a agência sequer tem um escritório na cidade?
Os dois hotéis foram ótimos (Tayka do Deserto e Luna Salada), a alimentação razoável (boa para padrões bolivianos) e o motorista era muito responsável na direção e sempre estava disponível para tirar fotos, na verdade, adorava tirar fotos e sempre fazia com várias posições.
Pelo motorista tiraríamos 1.545 fotos micadas como esta.
No dia seguinte, fomos para o Salar e achamos ele ainda mais solícito, nos outros dias estava mais tímido e introspectivo. Talvez pelo meu acesso de raiva… No final nos despedimos com saudações, presentinhos do Brasil e desejo que ele tenha uma vida boa, pois me pareceu ser um bom profissional, que foi pego de surpresa e não sabe muito improvisar.
Assim, recomendo o serviço da Mundi Expeditions, pois foi ela que nos guiou lá.
Planejar e executar esta viagem provou que mesmo lugares inóspitos, sem estrutura para receber turistas, podem ser um pouco amansados com pesquisa e, infelizmente, gastando um pouco mais. O custo por pessoa foi de U$ 600,00 com todas as refeições incluídas, duas noites em bons hotéis, além de um valor que cobram para entrar no parque de U$ 33,00.
É muito em relação ao que se cobra por um tour compartilhado (3x mais), mas embora tenha me aborrecido com a mudança dos planos, a verdade, é que a viagem foi Perrengue Zero, do meu jeitinho 😉