1 Em Volta ao Mundo

A volta ao mundo pelos passos de Nellie Bly

Volta ao mundo de Nellie Bly

No início do ano de 2019, ainda assombrada com o meu aniversário de quarenta anos que se avizinhava, encontrei um texto do blog 360 Meridianos falando sobre a volta ao mundo de Nellie Bly.

O texto é de 2014 e me espantou que nunca tivesse ouvido falar em Nellie Bly. Aliás, tal espanto se tornou rotineiro quando passei a divulgar aos amigos quem foi essa fantástica jornalista que, em pleno Séc. XIX, pareceu viver como quis.

Decerto, não concordo com o escritor Albert Camus ao refletir que não se viver como se quer é um modo de covardia. Às vezes, as necessidades mais imediatas nos pegam pelo pé, obrigando a seguir pelo lado da estrada que não é o nosso.

Eventualmente, necessidades relacionadas às despesas de subsistência, doenças, demandas familiares, tantos fatores nos levam a outros lugares, diferentes dos que imaginamos. E seguimos…

Se viver como se quer é um grande ato de coragem e um privilégio (e temos que ser conscientes que Nellie Bly era uma mulher de classe média branca), esse privilégio não diminui em nada a sua bravura.

E que bravura!

Volta ao mundo de Nellie Bly
Nellie Bly aos 26 anos. Foto Creative Commons US Department of State

A vida fantástica de Nellie Bly

Nellie Bly rompeu convenções sobre o que as mulheres devem e podem ser, trabalhou quando a maioria das mulheres estavam em serviços exclusivamente domésticos. Além disso, foi jornalista investigativa com matérias de grande impacto, quando os jornais queriam lhe designar matérias ditas “femininas”.

Nellie Bly 1980, Image by © Bettmann/CORBIS

Aos 21 anos, pediu demissão do jornal em que trabalhava e foi para o México escrever sobre a vida e cultura do povo mexicano. Causou tanto alvoroço no México, com a reportagem sobre a perseguição a um editor, que foi praticamente expulsa pelo governo ditatorial.

Ao chegar do México, publica uma série de reportagens corajosas sobre Porfirio Diaz, o governante mexicano.

Posteriormente, em 1888, pede demissão para tentar a sorte em a Nova York, onde consegue emprego no jornal de de Joseph Pulitzer, o mesmo jornalista que dá nome ao prêmio, o New York World.

Nesse jornal, fez sua primeira reportagem disfarçada, quando se internou voluntariamente por 10 dias em um hospício. Finalmente, a reportagem deu origem a um livro e até uma recente série de tv americana.

Livro de Nellie Bly
Livro de Nellie Bly

O texto produzido a partir dessa experiência gerou um livro que mudou a forma de tratamento psiquiátrico nos EUA e que até hoje é utilizado como documento histórico da luta antimanicomial.

A volta ao mundo de Nellie Bly

Quando parecia que não havia mais barreira a ser ultrapassada por Nellie, ela enfrenta o seu editor e o convence, sob a ameaça de procurar outro jornal, a bancar uma grande aventura: A volta ao mundo.

A versão de Bly, claro, era que a ideia de circundar o globo mais rápido do que o personagem ficcional Phileas Fogg foi dela, e que veio em um domingo de outono de 1888, enquanto ela se revirava na cama e desejava estar no outro lado da Terra.

Texto traduzido e citado na dissertação de Mestrado de Natália Queiroz

Assim, em 14 de novembro de 1889, ela embarcou no navio a vapor Augusta Victoria, em um total de 40 mil quilômetros percorridos.

Quebrando o recorde mundial, com apenas um vestido, um casaco e uma mala de mão, Nellie Bly deu a volta ao mundo, passando por 11 países, em quase todas as formas de locomoção.

A recepção de Nellie Bly em NYC

Finalmente, 72 dias depois, chegou a Nova York com o recorde batido e ficou ainda mais conhecida na ampla repercussão dada pela imprensa à sua chegada. Após a Volta ao Mundo, Nellie Bly teve a reputação indiscutível de grande jornalista firmada.

Nellie viajou de barcos e trens, em jinrickshas e sampas, a cavalo e em burros. Na parte final de sua jornada, o World a levou de São Francisco a Nova Iorque em um trem especial: ela foi recebida por toda parte com agitação de bandeiras, com o clangor de fanfarras, música aos brados e fogos de artifícios. O tempo [da viagem totalizou] 72 dias, 6 horas, 11 minutos e 14 segundos.
(MOTT, 1956).

Texto traduzido e citado na dissertação de Mestrado de Natália Queiroz

Nesse ínterim , Nellie Bly casou-se e aos 31 anos chegou a chefiar uma grande indústria deixada por seu esposo, nessa época criou invenções relacionadas à atividade industrial.

Uma das últimas fotos de Nellie Bly Image by © Bettmann/CORBIS

Contudo, o negócio não vingou e, embora tenha produzido dezenas de inventos para a indústria, chegou a falir. A falência se deu em circunstâncias complexas, que envolveram desde crise econômica ao machismo, com a dificuldade em realizar parcerias comerciais e liderança de funcionários por ser mulher.

Ainda voltou ao jornalismo, como correspondente da primeira guerra mundial na Áustria.

Nellie Bly com membro do exército austríaco. Polônia, 1914. Foto © Corbis. All Rights Reserved.

Finalmente, coroou o fim de sua vida profissional com um texto que previa as consequências do movimento sufragista feminino norte americano.

Se é possível fazer um resumo de uma vida em poucos caracteres, a de Nellie Bly foi estrondosa. Ela deixou sua marca na humanidade, o que pouquíssimos de nós podem se vangloriar.

A nossa volta ao mundo nos passos de Nellie Bly

E para lembrar e celebrar essa personalidade corajosa e marcante, decidi repetir a mesma volta ao mundo feita por Elizabeth Cochran, a Nellie Bly.

Partiremos, eu e Fabio, companheiro de todas aventuras, no dia do meu aniversário de 40 anos, em 20 de dezembro de 2020, seguindo os passos da volta ao mundo de Nellie Bly.

Do mesmo modo, pisaremos em quase todas as cidades que ela conheceu por 40 dias. Não precisaríamos de 72 dias pois hoje temos aviões 💗.

Nellie Bly em 1890 Image by © Bettmann/CORBIS

Infelizmente, tivemos que excluir do roteiro o Iêmem, que se encontra em uma sangrenta guerra civil desde 2015. Passaremos pelo vizinho Omã, em sua capital Mascate.

Ao propósito, retornamos no dia do falecimento de Nellie, em 27 de janeiro, chegando em Salvador no 40° dia de viagem. A saber, Nellie Bly terminou sua volta ao mundo em 25 de janeiro de 1890.

Essa viagem é uma homenagem e uma aventura, em que iremos testar nossos limites de apego e consumo, ao viajar com apenas 2 malas de mão de 9 kg cada.

Nesse meio tempo, lidar com a saudade de casa e dos nossos, as temperaturas abaixo de zero da América do Norte e os 40°C de Singapura. Ainda mais, lidar com os costumes alimentares e culturais dos mais diversos e nosso conhecimento precário de outras línguas, especialmente o inglês.

Nosso roteiro de volta ao mundo

Coincidentemente, não conhecíamos nenhuma das cidades que Nellie Bly visitou. Isso foi algo que me surpreendeu ao ver o roteiro, já que conhecemos mais de quarenta países. Inesperadamente, vai ser uma viagem cheia de ineditismos.

Nellie Bly saiu de Nova Iorque em 14 de novembro de 1989 com destino a Londres, Inglaterra. Conheço apenas três cidades nos Estados Unidos, Nova Orleans, Miami e Orlando. Surpreendentemente, não fui à Nova Iorque, mas vou suprir essa falha no primeiro ponto do roteiro.

Os encontros e surpresas do roteiro de Nellie Bly

No dia do meu aniversário, em 20 de dezembro de 2019, fiz um vídeo para o YouTube contando sobre a viagem, ver aqui.

De certo, serão 3 noites em Nova Iorque para conhecer o básico e também alguns pontos relacionados à Nellie Bly, como um pequeno museu da imprensa, a casa onde nasceu e o lugar onde ela está enterrada.

De Londres, Nellie Bly passou em Amiens, na França, apenas para conhecer Julio Verne, o famoso escritor que inspirou a volta ao mundo. Logo após, seguiu para Brindisi para tomar outro navio em direção ao Cairo, no Egito.

volta ao mundo viagens invisiveis
A volta ao mundo do Viagens Invisíveis

Atualmente, não teria sentido essa ida até Brindisi, seria mais fácil um voo de Londres ou Paris ao Cairo, mas vou ser fiel ao roteiro no limite das possibilidades. E, até agora, a única impossibilidade foi conhecer Aden no Iêmen, como tratei acima.

Além dos Estados Unidos, o único país que já passamos no roteiro foi a China, quando conhecemos Pequim, Suzhou e Xangai. Mais uma vez, com grata surpresa, não conhecemos Hong Kong, única cidade da China por onde passou Nellie Bly.

Por fim, esse é nosso pretendido roteiro.

DATASCIDADESQTD DIASPAÍS
20/12Saída de SalvadorBrasil
21, 22, 23/12Nova York3EUA
24, 25, 26, 27/12Londres4INGLATERRA
28, 29/12Amiens/Calais2FRANÇA
30, 31/12, 01/01Brindisi3ITÁLIA
02, 03, 04/01Cairo3EGITO
05/01Suez1EGITO
06, 07, 08/01Muscat3OMÃ
09, 10, 11/01Colombo3SRI LANKA
12, 13, 14/01Penang3MALÁSIA
15, 16, 17/01Singapura3SINGAPURA
18, 19, 20/01Hong Kong3CHINA
21, 22, 23, 24/01Yokohama e Tóquio4JAPÃO
25 e 26/01São Francisco2EUA
27/01Nova York – retorno1EUA

Em conclusão, serão 40 dias de viagem, um casal, duas malas de mão e duas mochilas pequenas, 11 países, 15 cidades e duas estações do ano. Eventualmente, alguns amigos e familiares estão planejando nos encontrar no caminho. Quem sabe algum leitor do blog também se anima?

E que Nellie Bly nos ilumine e encoraje, de onde estiver!

1 Comentário

  • Responder
    Leitura de viagem: Nova York. Volta ao mundo - Viagens Invisíveis
    19 de maio de 2020 em 17:50

    […] de leitura para uma viagem à Nova York. A primeira parada da volta ao mundo em livros e escritores que viveram a cidade e os Estados Unidos da […]

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